Sonho pirenopolino


Com que sonha afinal

Esse povão bem festeiro

Que habita incontinente

Nas sombras do velho Frota?



Que será que ainda busca

A gente alegre de Pirenópolis,

Ao enfileirar suas Cavalhadas

Nas ruas quentes de pedra?


Não saberia lhe responder!

Nem tenho meios de saber,

Porquanto é um mistério

Conhecer tão singular aldeia.


Mas já vem de bem longe

O enigma meiapontense,

Das eras das alcovas lacradas

Nos casarões impenetráveis.

 
De quando, fechados detrás das paredes,

Protegidos por ressequidos adobes,

Espiavam matreiros os antigos

Pelas frestas das tabuletas.

 
Fato é que um dia ousaram por aqui,

Misturaram sangue branco e mestiço,

Levantaram templos de terra

Erigiram casarões sobre dura aroeira.

 
E agora levam adiante aquele sonho!

São as ensaiadas Pastorinhas no teatro,

Os Cururucus que fazem graça,

Ou a folia que arrecada o óbulo da fé.

 
Sei só que meu coração dispara

Cada vez que toca a banda afinada,

Ou ouço o polaco rouco do Mascado,

Ou badala soluçante o sino da Matriz.

 
É que também sou parte desse sonho,

Sou nota musical na sinfonia do Almas,

Sou parte das pedras do calçamento,

E voltarei ao barro do adobe das paredes.


Adriano Curado

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