José Venceslau de Oliveira...um filho da Chã Preta

Vovô, você partiu causando um profundo sacrifício impetrado no mais recôndito de minhas entranhas. Sinto um incomensurável vazio por toda a casa. Em cada canto da mesma, paira uma lembrança que se torna numa saudade. Vejo-o ainda no seu ofício de abastardo comerciante; quando não, em clausura mergulhado em Deus nas horas mornas do cair da tarde ou as tantas da noite. Noto-o atencioso, compreensivo e sempre pronto a servir, junto ao umbral de sua residência, continuamente aberta aos outros.
 

Não resumo condições de extravasar  meus sentimentos de neto/afilhado. Não fui capaz de estagnar o tempo, para tê-lo ainda conosco. Amargo a separação rude de quem compartilhou comigo as alegrias de suas conquistas e dissabores das derrotas de longa existência devotada a família a sua [e nossa] Chã Preta.
 

Volto do campo santo de Santo Aureliano partido de saudade, extasiado. E você não veio. Recaem sobre mim as lembranças, aqui, em seus aposentos, onde você em câmara ardente foi visitado amiúde por parentes, afilhados, compadres, amigos e conterrâneos que sempre lhe trazia palavras que tentavam amenizar os dores físicas que lhe acometiam.
 

Foi doloroso o fechar do ataúde, a saída da Terezinha Brandão,35, o seu último trânsito pela cidade em direção ao cemitério, onde seus restos mortais repousam em jazigo perpétuo pertencente a família Oliveira da qual  o senhor foi o grande patriarca.
 

Deixei-o enquanto trazia junto a mim, de volta ao lar solitário, um acervo de recordações impregnadas no coração.
 

Penso neste instante, seu paternal amor, presente a todos os seus dias, gastando-se pela felicidade dos seus. Retrocedo ao pretérito, e repenso todo tempo de Chã Preta, onde você se pontificou pela simplicidade e serviço.
 

No seu passamento, toda comunidade ficou privada de um desvelado pai, à sombra do qual se erigiu uma grande família. Como é belo, louvável e divino, ser caridoso, ser justo. Você vô Venceslau encarnava todas essas belas qualidades, as quais lhe tornaram um chãpretense de escol.

*escritor, membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste; Academia Maceioense de Letras e Academia Alagoana de Cultura.