Confesso
que nunca acreditei muito nessas histórias de seres de outra dimensão
que vêm aqui atormentar a gente. Isso para mim sempre foi encarado como
uma forma de dominação das religiões. Algo tipo assim: ou vocês se
comportam ou vejam o que pode lhes acontecer.
Quando
criança, não. Naquela época eu cria mesmo nas tais entidades
espirituais. É que fui criado em fazenda e a agente ficava até tarde da
noite sentados ao borralho dum fogão a lenha, ouvindo os causos dos mais
velhos sobre assombrações.
Depois
eu cresci e as maldades dos vivos ocuparam o lugar dos espíritos. Hoje
em dia ninguém mais tem medo de cemitérios ou casas mal-assombradas
porque os queimadores de crack amedrontam mais.
Enfim,
toquei nesse assunto porque esta semana fui a um ritual de exorcismo.
Sim, eu fui. E não foi por curiosidade. Fui porque a cerimônia
fantástica ocorreu por acaso onde eu estava. Vou explicar direitinho. Eu
pesquisava num casarão muito velho na fazenda Contendas de Baixo, em
Goiás, gravando relato de moradores da casa e vizinhança, tirando fotos,
quando de repente uma mulher jovem começou a falar enrolado, rasgou a
roupa e, totalmente nua, catou o crucifixo que estava na parede e o
introduziu na parte íntima. Fez isso justamente quando ali estava
presente o padre Nazário, velho conhecido meu, e algumas irmãs que
angariavam donativos para uma quermesse.
Foi
uma cena inusitada e chocante. Ficamos ali parados por instantes, sem
reação alguma, enquanto a tal moça repetia a ação, olhava para nós e ria
debochada. Padre Nazário diagnosticou aquilo imediatamente como uma
possessão e "armado" de um livrete e de duas cruzes prestas, começou ali
mesmo na minha frente e dos demais presentes a cerimônia custosa para
ordenar ao espírito que deixasse a possessa.
Eu
vi, então, algo surpreendente. Enquanto o sacerdote orava em latim, a
moça largou o crucifixo e começou a se contorcer como uma cobra que leva
paulada. Falava numa língua estranha, babava, se debatia e ainda
revirava os olhos de forma amedrontadora. Ficou assim uns vinte minutos,
vez em quanto investia contra nós, até que se aquietou e serenamente
adormeceu.
Meus
joelhos se batiam e eu sentia um frio intenso de medo. Colocamos a
coitada numa cama e ele dormiu por quase um dia inteiro. Quando parti no
dia seguinte, ela ainda dormia. Mas em contado posterior com Padre
Nazário, ele me informou que ela finalmente despertou e que não se
lembrava de nada do ocorrido.
Não
sei se o que presenciei foi uma manifestação de algum transtorno mental
ou uma ilusão hipnótica, mas era bem real e infundiu muito medo, Tirei
algumas fotos do ritual, mas em respeito à jovem não foi publicá-las
aqui.
Adriano Curado
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