Como já contei aqui várias vezes,
eu era um próspero e requisitado advogado em Goiânia, a capital de
Goiás, quando resolvi ir embora para casa. Vendi minha sala comercial,
repassei clientes para colegas, despedi-me dos serventuários do fórum e
fechei as portas. Vendi também meu apartamento e todos os móveis que lá
estavam. Era o momento de recomeçar, de partir em busca do meu "eu
interior". De nada adiantava prosseguir numa atividade que não me dava
prazer, e apenas o dinheiro não era suficiente para fazer-me feliz.
Cheguei
assim à pequena e pacata cidade de Pirenópolis, bucólica e romântica,
localizada numa região de morros arredondados e cercada por matas e
cachoeiras. Foi daqui que parti há mais de década em busca de realização
profissional, mas só consegui mesmo sentir saudades da terra de meus
pais.
Desci
minha mudança num casarão centenário, com um quintal imenso onde cantam
pássaros pela manhã e onde tenho tranquilidade para escrever meus
livros. Embora seja uma cidade histórica bastante frequentada pelos
moradores do Distrito Federal, durante a semana dá para desfrutar de uma
calma relativamente longa. De sexta-feira em diante os turistas chegam,
engarrafam as ruas estreitas, sujavam as calçadas. Mas nada que consiga
tirar meu bom humor.
Reabri
então meu escritório de advogacia. Clientela nova, ações diferentes,
público que queria outras demandas. Estudei bastante direito agrário e o
rito dos inventários, meu carro-chefe. Também me especializei em
trabalhista porque não havia profissionais dessa área ali. De modo que
agora, já passado certo tempo, só me arrependo de um dia ter saído daqui
e perdido tanto tempo em terras estranhas aos meus costumes e manias.
Conto
essa história aqui para chegar no ponto que queria. É que, esta semana,
depois de me cansar da tranquilidade de Pirenópolis, resolvi ir a
Goiânia passear em seus parques e contemplar os jardins floridos. Das
quatro horas que passei lá, duas fiquei parado nos engarrafamentos do
trânsito.São tantos carro e moto que não cabem nas ruas. Os parques
estavam interditados porque havia risco de contrair dengue, os jardins
floridos ficaram cinzas de tanta fuligem de escapamento. Enfim, o caos.
Voltei para casa com um alívio no peito e relembrei rapidinho porque saíra dali.
Adriano Curado
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