Quando adolescentes, somos todos sábios. Muito sábios. Sabidos demais: seguros de nossas convicções e de que nada existe além das nossas cabeças repletas de informações. Ah! E ninguém consegue processar melhor quaisquer informações senão a milagrosa máquina que vem a ser o nosso cérebro. Ao menos era assim.
Perguntamos pouco, porque quase ninguém será capaz de preencher satisfatoriamente a curiosidade de um adolescente, e isso se aplica gravemente aos adultos. Algum adulto dominará os polegares com a mesma destreza de nossos polegares ao celular?
Num passado que vai muito além do “primeiro horizonte”, isto é, do solene momento do meu nascimento, alguém andou dizendo que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Se é assim, para que palavras? Fiquemos só com as imagens, Véio! Um professor mostrou uns desenhos muito mal feitos, diz que foram feitos pelos tais homens das cavernas; e chamou aquele trem lá de “rupestre”, sei lá... E depois vinham uns desenhos muito caprichadinhos, mas o desenhista só via as pessoas e os bichos de perfil; falou em hieróglifos. Depois, mostrou uns rabiscos estranhos e falou que eram “as escritas através dos tempos”; este jeito nosso de escrever, disse ele, é o que se tem de mais moderno.
Perguntamos pouco, porque quase ninguém será capaz de preencher satisfatoriamente a curiosidade de um adolescente, e isso se aplica gravemente aos adultos. Algum adulto dominará os polegares com a mesma destreza de nossos polegares ao celular?
Num passado que vai muito além do “primeiro horizonte”, isto é, do solene momento do meu nascimento, alguém andou dizendo que “uma imagem vale mais que mil palavras”. Se é assim, para que palavras? Fiquemos só com as imagens, Véio! Um professor mostrou uns desenhos muito mal feitos, diz que foram feitos pelos tais homens das cavernas; e chamou aquele trem lá de “rupestre”, sei lá... E depois vinham uns desenhos muito caprichadinhos, mas o desenhista só via as pessoas e os bichos de perfil; falou em hieróglifos. Depois, mostrou uns rabiscos estranhos e falou que eram “as escritas através dos tempos”; este jeito nosso de escrever, disse ele, é o que se tem de mais moderno.
Tadinho dele! Sabe de nada... só escreve deste jeito muito arrumadinho, cada verbo no seu tempo e seu modo (diz ele), cuida de ortografia, regências e concordâncias. Que é isso, Véi! Ah, mas o cara tem mais de 35 anos, é muito véio! Já tem uns cabelos brancos.
Na aula de ontem, ele deu uma de atual. Escreveu no quadro:
http://www.sensacionalista.com.br/2014/10/07/depoimento-dou-pra-qualquer-homem-que-saiba-usar-a-crase/
... e disse que devíamos ler isso. E liberou para ligarmos nossos tablets e celulares.
Véi! Que doido! Uma mulher escreveu que queria ser normal, tem 39 anos, queria estar casada e ter dois filhos e tal, mas que não consegue ficar com um cara que não sabe usar a crase. E o professor falou de uma escritora gaúcha que escreveu que “o ponto G está no ouvido feminino”.
Eu li aquilo lá e pensei no cara que falou das imagens – “Uma imagem vale por mil palavras”. Pensei no complicado que é um cara conjugar verbos e colocar cada variação no lugar certo numa frase, e a rima levou-me à crase (que fase!). E o professor falou que o bom Português nos leva muito além do vestibular – é o passaporte para os concursos públicos e sua falta é a razão maior da reprovação de uns 85% dos bacharéis que tentam obter carteira da Ordem dos Advogados do Brasil.
Tentei entender a crase... fiquei de cara! Será que não vou arranjar uma namorada inteligente? Avaliei minha sabedoria, minha condição de sábio perfeito e, em casa, peguei um velho álbum de retratos; lá estava meu avô aos três anos de idade com um cavaquinho nas mãos.
Acho que meu avô era mais sábio...
Texto do escritor Luiz de Aquino publicado originalmente em:
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