Eu fui uma criança muito
feliz. Tive uma infância tranquila, num lar bem estruturado e que
não me deixava faltar nada. Vejo por aí tantas famílias que se
implodem e os filhos pagam o preço por erros que não cometeram…!
Mas comigo foi diferente.
Venho de família
numerosa, influente na política e com tradição cultural. Meu avô
paterno, por exemplo, era um grande ator teatral e mesmo hoje, já
passadas mais de três décadas de sua morte, ainda é lembrado com
fascinação. Lá em casa sempre se respirou cultura, sempre se falou
em folclore, e creio que isso forjou em mim a vontade de escrever.
Cresci na cidade
histórica de Pirenópolis, interior de Goiás. Na velha rua Nova
onde passei a minha infância, a gente podia brincar de jogar bola
porque transitava pouco carro e não se ouvia notícias de
malfeitores. A meninada se reunia todo final de tarde, os homens no
futebol, as mulheres no jogo de bete.
Meus pais moravam num
casarão colonial centenário que pertenceu ao maestro Joaquim
Propício de Pina. Lá havia quintais do tamanho do infinito e
mangueiras que minhas proporções infantis achavam que roçavam no
céu.
Depois nos mudamos para
outro casarão, de uns duzentos anos, na esquina da rua Nova com a
praça central da cidade. É a casa de minha avó. Esses foram os
melhores momentos de toda a minha vida, pois poder conviver todos os
dias com os avós não é para qualquer um.
A televisão preto e
branco era sem graça, então as pessoas espalhavam cadeiras pelas
calçadas e contavam as novidades do dia. As brincadeiras, causos e
fofocas terminavam ali pelas vinte horas porque a gente dormia cedo
naquele tempo.
Hoje tudo está mudado.
Os veículos expulsaram os meninos e as novelas tiraram as cadeiras
das calçadas. As pessoas só se comunicam pelas redes sociais ou
aplicativos de celular. Não há mais tempo para viver!
Mas eu ainda guardo na
lembrança aqueles dias gostosos da minha infância e os trago de
volta cada vez que relembro o passado.
Adriano Curado
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