Só mesmo um Deus inspirado até a tampa, onipotente e em plena posse de seus superpoderes poderia ter criado o mundo, tão vasto e tão complexo. Não importa se num processo instantâneo ou evolutivo. Não importa se tenha sido um singelo Deus das religiões, ou um Deus muito mais misterioso e sutil, cuja natureza nenhuma religião, nenhuma teologia, por mais aguda que seja, tenha conseguido sondar até hoje. Neste ponto, as pessoas costumam se bifurcar em duas categorias: crente e ateu. Para o crente a partir daí tudo é mistério. Dá a questão por encerrada e tudo se reduz a dogmas. Para o ateu, a partir do instante em que o entendimento não pode romper mais, tudo vira enigmas. Dogma e enigma se parecem. Diferem apenas porque o dogma é um desconhecimento com resignação, enquanto o enigma é um desconhecimento pedindo para ser devassado.
Até o surgimento do homem, não importa se o homem bíblico ou o biológico, Deus se manteve firme e absoluto na gestão do mundo, sem dividir o seu poder com nenhum político adversário. No entanto, quando a espécie humana, bicho novo, dotado de consciência e raciocínio, começou a cumprir a ordem divina de crescer, multiplicar e encher toda a terra, parece que Deus vacilou qualquer tanto e começou a dividir o seu reino, numa política de distensão.
Como havia criado o demônio, deu a ele o encargo de gerir toda a desgraceira do mundo, enquanto Deus cuidaria das benesses. E desde então o diabo tem se mostrado mais competente do que Deus na gestão de seus empreendimentos. E digo isto nem é porque vivemos num tempo em que parece que as mazelas distribuídas no mundo são superiores às benesses. A maldade do diabo parece que superara a bondade divina. Pelo menos a mídia, que deve ser um empreendimento do diabo, praticamente só divulga os feitos demoníacos, as obras de seu patrão.
Digo que Deus se tornou um gestor menos vibrante do que o diabo porque, mesmo no seu terreno exclusivo, naquele em que havia reservado para si próprio, teve que dividir o poder. Vamos nos ater apenas às três grandes religiões monoteístas: No mundo judaico, entregou o poder a Jeová, no mundo islâmico, quem dá as cartas é Alá e no mundo cristão, obviamente é Cristo. Aliás, no cristianismo, teve que entregar o cargo a uma junta trinaria: Pai, Filho e Espírito Santo. E ainda há aqueles que querem inserir Maria, a mãe do filho, num cargo de proa, para ficar de boa com as mulheres.
Já o diabo, não. O diabo das três grandes religiões é um só, único, indivisível. E acima de tudo inabalável. Ele administra as mazelas e ruindades no mundo inteiro, com mão de ferro, ou de titânio. E vê seu reino crescer dia após dia. O PIB do Mal deve ter crescido mais que o PIB da China, nos últimos anos. O diabo que inspira o esgotamento das águas em São Paulo é o mesmo que promove o terrorismo islâmico. O diabo que promove a disseminação das drogas entre os jovens é o mesmo que inspira a corrupção em toda parte. O diabo que se deixa espancar nas igrejas é o mesmo que promove a guerra entre israelenses e palestinos. O diabo que promove a desavença entre vizinhos é o mesmo que posta filmes pornôs de crianças na internet. Como vimos, Deus anda muito dividido e bambo. Já o diabo segue coeso e teso como nunca.
Texto do escritor Edival Lourenço
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