Faz um ano que me mudei para cá. Alterei
todo um estilo de vida para me adaptar a este casarão colonial amplo,
com espaço de sobra. Nem tenho móveis suficientes para enchê-lo. Não foi
fácil, é verdade, pois sai da vida corrida da cidade grande, com
trânsito infernal e poluição permanente, e de repente fui jogado na
pasmaceira de uma cidade de interior brasileiro. Mas a gente se adapta a
tudo, e agora não troco meu cantinho de chão por nada neste mundo.
Pela
manhã, quando os primeiros pássaros anunciam a alvorada na serra, eu
espreguiço na cama mas não me levanto. Gosto de apreciá-los nos seus
cantares sonolentos. Depois vem o café quentinho em bule esmaltado, o
fogão a lenha, o bolino de chuva. Dou um beijo na pessoa amada e saio
para os afazeres do dia. Não preciso correr, pois tempo me sobra
bastante agora.
Fechei
meu escritório de advocacia que mantinha na capital goiana e o
transferi aqui para a tranquila Pirenópolis. Perdi quase todos os
clientes, é verdade, mas recomeçar é sempre importante quando se entra
na casa dos quarenta sem se estar feliz plenamente. Confesso que ganhava
bem mais antes, mas também gastava quase tudo numa vida de
esbanjamentos exagerados.
Tenho
hoje uma sala modesta, com uma secretária sorridente, e os amigos
sempre passam ao final do dia para jogar conversa fora. Por sorte que já
fiz meu pé de meia e não tenho que me preocupar com dinheiro. Então
posso exercer a arte da advocacia com paciência, escolho os clientes,
recuso ações aventureiras, não ofendo mais ninguém.
Em
resumo, agora sou um apessoa feliz, plena e realizada. Essa mudança de
vida foi o que de melhor me aconteceu e agradeço sempre as oportunidades
que a vida me deu e eu soube aproveitar.
Adriano Curado