Geraldo de Pina

Geraldo de Pina

Geraldo de Pina
Fotografia de 1962, Arquivo da Família Pina
     Geraldo d'Abadia de Pina (Pirenópolis, 08.05.1925 – Anápolis, 23.07.1988), engenheiro civil, foi duas vezes deputado federal, presidente das Centrais Elétricas de Goiás e do Departamento de Estradas e Rodagens de Goiás, além de responsável pela revitalização da Festa do Divino de Pirenópolis. Terceiro filho, duma prole de dez, de Luiz d'Abadia de Pina (Lulu de Pina) e de Inácia Lopes, casou-se com Mariana, de quem se divorciou sem sucessão.  Posteriormente casou-se novamente e teve um filho de nome Fabio Lacerda Aragão de Pina. Fez suas primeiras letras com o professor Manoel Hermano da Conceição, na terra natal, e mais tarde se tornou engenheiro civil no extinto Estado da Guanabara, Rio de Janeiro.


Geraldo de Pina e Dona Adelaide, matriarca da Família Jayme-Siqueira
Fotografia de 1968, Arquivo da Família Pina





     Depois de formado, retornou a Goiás e foi para Brasília labutar junto à empresa Cia Planalto, dos Estados Unidos, que construía edifícios na Esplanada dos Ministérios. Nesta época Geraldo de Pina conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira, de quem se tornou amigo, e quem o aconselhou a entrar para a política partidária. Por amizade a Geraldo, JK esteve várias vezes em Pirenópolis e fazia questão de tomar refeição na Pensão Padre Rosa, de Joanito Jayme.
Cel. Achiles de Pina

     Com o término dos trabalhos em Brasília, no princípio de 1959, mudou-se para Goiânia e, por indicação do tio, coronel Achiles de Pina, ocupou a chefia da Secretaria de Viação e Obras Públicas de Goiás (Sevop), no governo de José Feliciano Ferreira. Convidou para auxiliá-lo o amigo e escritor Carmo Bernardes, que trabalhava como jornalista no Jornal Imprensa, de Eurípedes Gomes de Melo.


Ex-governador José Feliciano Ferreira (1916 - 2009)
Governou Goiás de 1959 - 1961
Pirenópolis deve muito à memória desse homem

     A convite do governador, assumiu a presidência da Celg (Centrais Elétricas de Goiás) em 24.11.1959, donde só saiu em 21.12.1961. Nessa época a cidade ainda era iluminada pela velha usina particular de Gastão de Siqueira, que produzia uma luz fraca e amarelada. Geraldo instalou a Celg em Pirenópolis e, na festa de inauguração, José Feliciano, visivelmente constrangido, chamou-o a um canto:
-- Geraldo, mas que situação delicada você meu deixou!
-- Como assim, doutor Feliciano?
-- Que ideia foi essa de instalar poste de cimento em Pirenópolis?
- Qual o problema?
- O problema é que Goiás quase que inteiro tem poste de madeira, inclusive minha terra natal!



Casarão da Família Pina na atualidade
foi palco de muitas festas do Divino

     O mandato de José Feliciano, que se iniciara em 31.01.1959, terminou em 31.01.1961, quando então assumiu o governo de Goiás Mauro Borges Teixeira. Novo pedido de Achiles de Pina manteve Geraldo na Presidência da Celg e, mais tarde, em 21.12.1961, o governador o convidou para assumir a presidência do Dergo (Departamento de Estradas e Rodagens de Goiás – atual Agetop), onde trabalhou na árdua tarefa de alargar e melhorar a péssimas rodovias goianas, cargo que ocupou até o final de 1962.



Luiz d'Abadia de Pina (Lulu de Pina)
Fotografia de 1969, Arquivo da Família Pina

     Em Pirenópolis, Luiz d'Abadia de Pina (Lulu), pai de Geraldo, se elegeu prefeito pela UDN numa votação até hoje sem precedentes, se considerarmos a proporção de eleitores da época. Dos 2 760 votantes, Lulu teve 1 891 votos, contra 672 do adversário. O restante foram votos inválidos. Isso animou Geraldo de Pina, que nunca se esqueceu dos conselho de JK, embora ambicionasse uma árdua tarefa, que era eleger-se deputado federal sem galgar nenhum outro cargo.



Cartaz da campanha de Geraldo de Pina
Arquivo da Família Pina

     Baseado no sucesso eleitoral do pai, Geraldo teve uma ideia. Na Fazenda Chumbado, pertencente à família, organizou uma fenomenal festa. Faixas foram esticadas por toda a rodovia, tanto de Pirenópolis quanto de Goianésia, até chegar à fazenda, com frases de saudação ao povo. Compareceram o governador Mauro Borges, seu pai, Pedro Ludovico, o ex-governador José Feliciano, além de prefeitos de dezenas de municípios goianos. Os pastos no entorno da casa-sede ficaram coloridos de barracas. Para alimentar tanta gente, mataram 11 vacas e 22 leitoas. Geraldo, então, aproveitou para, num discurso emocionado, lançar sua candidatura. O amigo Carmo Bernardo cunhou o slogan: “Pina falou pode escrever”.


Carta de Geraldo de Pina aos pirenopolinos
Arquivo da Família Pina

     Deu certo. Em 3.10.1962, Geraldo é eleito deputado federal por Goiás, pelo Partido ARENA, exonera-se da diretoria do Dergo e se muda para Brasília. Como parlamentar participou em missão oficial a viagens aos Estados Unidos, por ser membro integrante da Comissão Permanente de Transporte, da Câmara dos Deputados. Com o fim do seu mandato (1967), tentou novamente a reeleição, mas a realidade era outra – seu pai já havia deixado a prefeitura; com o Golpe de 1964, Pedro Ludovico perdeu o poder e Mauros Borges foi deposto. Mas não desanimou e ainda com a ajuda de Carmo Bernardes, cunhou outro slogan: “Vamos reeleger quem fez por merecer”. E em seguida endereçou a Pirenópolis uma carta aberta. Conseguiu votos apenas para a suplência, embora pouco mais tarde conseguisse assumir o cargo. Com o fim do segundo mandato (1967-1971), Geraldo já estava farto da política e se dedicou exclusivamente à profissão de engenheiro civil. Fundou a construtora Agroenge, especializada em terraplanagem, iluminação pública e meio-fio. Sua maior obra foi o planejamento e criação do loteamento Anápolis City, hoje um elegante bairro anapolino, cujo rua principal leva seu nome.


Fazenda Chumbado, palco da grande festa da campanha de Geraldo
Foto da década de 1950 - Arquivo da Família Pina

     Além de muitas obras públicas para Pirenópolis, Geraldo de Pina ajudou bastante a cidade na área cultural. O ocorre que, depois de 1958, seguiram-se oito anos sem outra encenação das Cavalhadas, época em que a Festa do Divino de Pirenópolis entrou em acentuado declínio, principalmente por conta do pouco entusiasmo do povo e dos festeiros que se seguiram. Ocorriam apenas a parte religiosa e algumas apresentações de dança ou teatro. Geraldo descobriu que era preciso resgatar o explendor e o entusiasmo de outrora, então a família Pina se reuniu e traçou-se um plano que começou a se efetivar quando Mauro de Pina, com apenas dezoito anos de idade, foi sorteado imperador, já no ano de 1966. Foi um grande sucesso. O casarão de Lulu de Pina, que fica em frente à igreja Matriz, foi aberto ao povo e ali serviram refeições e bebidas com fartura. Muitos jovens da época não se lembravam de como eram encenadas as Cavalhadas, então tiveram de buscar antigos cavaleiros. José d'Abadia de Pina, irmão de Geraldo, era o Rei Mouro, Fiíco da Babilônia seu embaixador, e havia muitos cavaleiros bons naquela nova apresentação, como Joãozico Lopes, Dito Zafá, Felipe, Lalau etc.


Geraldo de Pina imperador de 1969
Ao seu lado, Duílio Pompeu, imperador de 1970

     A Festa do Divino de Pirenópolis, no entanto, chegou ao seu auge com o sorteio de Geraldo de Pina, em 1969, dado à sua influência em Brasília, e ele foi o responsável pelo novo fôlego da festa, ao promover o início dos festejos com bastante barulho (alvoradas, zabumba e apresentações da Fênix). No dia 24 de maio, sábado do Divino, foi feita uma queima de foguetes nunca vista em Pirenópolis, com uma girândola de 10 mil tiros, além de fogo de artifício e disparos de ronqueira. Centenas de meninas vestidas de branco saíram do casarão de seu pai, Lulu de Pina, no rumo da Matriz. Devido à influência de Geraldo como deputado federal, Pirenópolis se tornou conhecida por Brasília e foi “invadida”, pela primeira vez, pelos turistas. Isso só foi possível porque, no plano de revitalização da festa, Geraldo tomou a corajosa decisão de puxar a primeiro dia das Cavalhadas para o domingo, e, daquele ano em diante, os turistas puderam assistir pelo menos um dia de apresentação.


José d'Abadia de Pina
rei mouro que ajudou a reorganizar as Cavalhadas
Foto de 1968 - Arquivo da Família Pina

     Geraldo de Pina morreu em Anápolis na tarde de 23.6.1988, aos 63 anos, vitimado por fulminante infarto. Por iniciativa do governador Marconi Perillo, foi promulgada a Lei 13.633/2000, que denominou “Rodovia Geraldo de Pina” o trecho da GO-338, que liga as cidades de Pirenópolis a Abadiânia.




Bibliografia:
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Divino, o santo e a senhora. Rio de Janeiro: Funarte, 1978.
CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis, coletânea 1727-2000, história, turismo e curiosidade. Goiânia: Kelps, 2000.
CURADO, Glória Grace. Pirenópolis, uma cidade para o turismo. Goiânia: Oriente, 1980.
FERREIRA COSTA, Lena Castelo Branco. Arraial e coronel. São Paulo: Cultrix, 1970.
JAYME, Jarbas. Esboço histórico de Pirenópolis. 2 v. Goiânia: Imprensa da UFG, 1971.
JAYME, José Sisenando. Pirenópolis (humorismo e folclore), Edição do Autor, 1983.
SILVA, Mônica Martins da. A festa do Divino – romanização, patrimônio e tradições em Pirenópolis (1890-1988).

Entrevistas:

- João José de Oliveira (aos 90 anos)
- Maria Jayme de Siqueira Pina (aos 87 anos)
- Antônio de Pina (aos 60 anos)
Site:
www.camara.gov.br

Adriano Curado

Texto originalmente publicado no blog Cidade de Pirenópolis.