Marina, a imprevisível
Marina, a imprevisível
A Marina é um ser muito, muito especial. Completou, há poucas semanas, quatro anos de vida, de um olhar penetrante e curioso e de uma perspicácia incomum e, inevitavelmente, muitas tiradas de rara inteligência. Mesmo no tempo em que a fala ainda não se mostrava plenamente desenvolvida – aquela fase dos tatibitates, de trocar R e L, de fundir sílabas e mesmo inventar palavras quando necessário, o modo de raciocínio já se mostrava muitos pontos acima do esperado.
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Marina em ação: ornamentando a árvore de Natal na casa do tio Luiz. |
Esse período, pouco antes e pouco depois dos dois anos, dá-nos a medida do quanto a pessoa, a pequena pessoa, valoriza seus objetos, sejam brinquedos ou roupas; e, no caso dela, em que a vaidade feminina já se mostrava latente, os adereços como um diadema (ou tiara), um brinco ou pulseira têm também importância incomum, como que definissem um estado de emoções.
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E a árvore de Natal de sua casa. |
Além dos brinquedos e objetos pessoais, os símbolos que tão bem marcam essa fase, como os super-heróis, são também referências. Enquanto os meninos se sentem homens-aranha, super-homens ou homens-de-ferro, as meninas gostam de se sentir borboletas, cinderelas e brancas-de-neve. E foi pelos dois anos que ela ganhou um “roupa de borboleta”, com asas e um diadema com as antenas da lepidóptera. Bem... Felizmente, o apartamento, num 21º andar, tem telas, porque a pequenina queria mesmo era sair voando pela janela.
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A primeira cartinha, para balançar o coração da mamãe... |
Gosta muito, também, de cães. A avó materna, Roseanna, tem uma cachorrinha, dessas que se criam em apartamentos; de pequeno porte, pois. E Marina, desde sempre, sente-se meio dona da cadela. Vez em quando liga para a avó: “Vovó, você me empresta a Zoé?”. Roseanna diz que entre elas, com relação à cadelinha, há como que um pacto de “guarda compartilhada”. Atende, pois, mas dois dias depois, no máximo, Marina liga outra vez: “Vovó, busca a Zoé”...
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Outra vez em ação: fazendo bolo. |
Um dia, ela passeava com a Zoé e a mãe, Taíssa. Embarcam no elevador ao lado de uma moça que chegava também de um passeio com seu poodle, de porte bem maior. O macho rosnou para Zoé, como quem tem seu território invadido; foi contido pela dona e tão-logo desembarcaram, Marina, assustada, comentou: “Mamãe, aquela ovelha queria devolar a Zoé”.
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Ela há de ser uma exigente dona de casa... |
Estes dias, ela vive uma nova experiência: o tio Rodolfo vai se casar e a noiva, Tia Dani, escalou Marina como dama-de-honra; caberá a ela conduzir as alianças. Marina nada comentou, apenas acompanha, como quem não liga, as conversas em torno de todos os preparativos. E, muito ao seu modo, preferiu consultar a avó Roseanna:
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... mas, também, uma ocupadíssima internauta! |
– Vovó, quando um homem conhece uma mulher e se apaixona eles se casam, né?
– Sim, Marina, é isso mesmo.
– E no casamento, quem leva as alianças?
– Ué, Marina, uma criança muito bonitinha e bem arrumada, bem vestida como daminha de honra.
– E quando um cachorro conhece uma cachorra? – quis saber mais.
– Ah, Marina! Eles também se casam.
– E quem leva as alianças?
– Os cachorrinhos crianças, é claro!
Marina meditou:
– Hum... Casamento de cachorro não é elegante!
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Texto do Acadêmico Luiz de Aquino, publicado originalmente em http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.br/