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Nas laterais da Matriz estão as sepulturas dos escravos |
Durante
o tempo da mineração, no século XVIII, as Minas de Meia Ponte receberam
uma multidão de escravos africanos para trabalhar no insalubre garimpo.
Pelas condições desumanas a que eram submetidos, o índice de mortandade
se mantinha sempre elevado. José Sisenando Jayme fez uma estimativa, ao
comparar as mortes de negros com a dos brancos e chegou à assustadora
cifra de 5/1 para o escravos.
Daí
vem uma indagação interessante: onde eram sepultados tantos mortos? É
certo que não havia cemitérios em Meia Ponte antes da Proclamação da
República. Jarbas Jayme fala que possivelmente existiu um velho campo
santo nos primórdios da povoação, mas ele foi abandonado, O atual
Cemitério S. Miguel é bem jovem se comparado à cidade. Então, onde estão
os mortos?
Dentro
dos templos foram sepultados os homens brancos, desde que não
cometessem suicídio e professassem a fé católica. Já os brancos
desconhecidos da população, como os viajantes, os negros e pardos eram
sepultados do lado de fora da igreja. O local era chamado nos termos de
óbito de "átrio".
Desta
forma, ao redor da Matriz de Pirenópolis estão os túmulos de milhares
de desconhecidos, atores que labutaram no garimpo de ouro e que
pereceram sem que se saiba agora quem são. Um trabalho arqueológico
ainda não foi realizado nessas sepulturas, mas sabemos que elas são
organizadas e que estão divididas em andares. Basta ler os
interessantíssimos livros de óbito no Arquivo Eclesiástico para saber
mais sobre essa parte desconhecida da história.
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Debaixo do assoalho da Matriz foram sepultados os brancos |
Mas
havia também a Igreja do Rosário dos Pretos, que era de uso exclusivo
dos negros e onde podiam ser sepultados livremente. Ocorre que, por se
tratar de escravo, quem escolhia o lugar do sepultamento, por óbvio, era
seu senhor, que quase sempre mandava enterrar perto da Matriz mesmo.
Numa
escavação feita recentemente próximo onde ficava a Igreja do Rosário,
depararam com inúmeras sepulturas anônimas. Também cabe registrar que na
década de 1960, quando Emmanoel Jayme Lopes (Nelito) mandou construir a
Praça Central, ali encontraram incontáveis ossadas humanas, que foram
levadas para o cemitério. O que esses ossos faziam longe dos átrios dos
templos? Seria ali o local do velho cemitério bandeirante que Jarbas
Jayme tanto procurou e não encontrou? São perguntas ainda sem resposta.
Adriano Curado
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A Igreja do Rosário dos Pretos era para sepultamento exclusivo dos escravos |
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