Você
já notou que as assombrações sumiram do imaginário popular? Creio que
isso é fruto da modernidade. Hoje as pessoas não têm mais tempo para
essas extravagâncias, preferem assistir televisão ou acessar internet.
Mas houve tempo em que eram bem recorrentes os causos de aparições.
Lembro-me
da infância na fazenda de meu avô José, quando ao final do dia a
peonagem se sentava ao pé de um fogão a lenha, enrolava o cigarro de
palha, trocava um dedo de prosa até chegar a hora de dormir, E naqueles
bons tempos se dormia cedo. Fato é que, lá pelas tantas, sempre se ouvia
uma narrativa do outro mundo. Eu ficava ali de olhos bem arregalados,
coração palpitante, e quando ia dormir estava tão impressionado que
ouvia passos e arrastar de correntes a noite toda.
Um
dia meu avô, que era um cético, depois de ouvir o que ele classificou
de baboseiras, levantou-se e disse em alto e bom som que não acreditava
em nada daquilo. E completou: "Se existir alma de outro mundo, que chame
meu nome". Mal terminou de falar e ouvimos lá de fora: "Zé!"
Foi
um pandemônio na fazenda. Meu avô achava que era uma brincadeira de mal
gosto. Acendeu luzes, piscou a cachorrada e pôs todos a averiguar. Mas
não havia ninguém. Ali na cozinha estavam todos que se encontravam na
fazenda naquele momento. Nunca soubemos explicar isso.
Outro
fato perturbador ocorreu na nossa casa na Rua Nova, aqui em
Pirenópolis. Minha avó Maria nos contou que certa madrugada, quando
minha mãe (Marta) e minha tia (Beatriz) eram crianças pequenas, meu avô
na fazenda, ela começou a ouvir móveis que se arrastavam na sala de
visitas. Depois as jarras se lançaram ao chão e mesas e cadeiras
passaram a se debater com bastante força. Devagar, sem que as filhas
acordassem, foi até a porta do quarto e a fechou. No outro dia não havia
nada quebrado e tudo estava no devido lugar.
Ainda
na mesma casa, contou-nos Josafá Benedito Gomes, o saudoso Diquinho,
que ele, quando solteiro, tinha um comércio onde hoje está a farmácia do
Hélio Forzani, ponto comercial da casa. Numa noite, quando meus avós
estavam para a fazenda e ele dormia sozinho na casa, num colchão sobre o
balcão da venda, começou a ouvir arrastar de móveis e gemidos que
vinham lá de dentro. Amanheceu sentado no meio-fio. E quando finalmente
abriram a casa no outro dia, nada estava fora do lugar.
E
há muitas histórias ainda mais antigas. Lembro-me de uma que me contou
dona Lélia de Pina Amor sobre um cavaleiro que zanzava na Rua Nova na
alta madrugada. Esse relato era narrado pelos mais antigos e diziam que
houve até uma testemunha. Foi dona Eufêmia de Pina, filha do Mestre
Propício, quem presenciou. Contava ela (Eufêmia) que acordou à noite com
o resfolegar de um cavalo próximo à tabuleta da janela e quando olhou
pela fresta, viu a aparição vestida de general antigo, com galões
dourados pendentes no ombro. De repente disparou em galope e sumiu.
Nestes
atuais tempos sem poesia e romantismo, até as assombrações fazem falta.
Mas para não deixar que velhas histórias se sumam, na Fazenda Babilônia
há um evento interessante. À noite apagam as luzes e os presentes
contam as histórias mal-assombradas que conhecem. Deve ser
deliciosamente assustador.
Acadêmico Adriano Curado
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