É
bem natural que um povo perca aos poucos parte de sua cultura. Surgem
novos elementos que se agregam ao anterior, modificam seu conteúdo ou
até o exterminam. Pode ocorrer também que uma cultura de cunho religioso
se extingua porque, por exemplo, aquela parte do culto foi abolida.
Neste último caso menciono uma bonita procissão em que se fechava a
porta do templo e o povo cantava de fora para que a abrissem.
Mas a alteração cultural não pode existir além da conta, sob pena de asfixia e morte de todo o sistema.
Em
nossa terra há exemplos de pequenas modificações que incomodam mas não
têm o poder de destruir. Cito um ritual dos cavaleiros das Cavalhadas
onde o subordinado deve ir buscar o superior em sua residência, e assim
respectivamente até que todos juntos vão ao encontro do rei. Desde de
tempos remotos se fez assim. Mas há alguns anos modificaram isso. Agora
marcam encontro nas sombras em frente da Matriz e de lá se dirigem para o
campo dos embates. Coisa pouca essa mudança, provavelmente inventada
para poupar cavaleiros e animais.
Imperador Geraldo de Pina coroado dentro | da Matriz em 1969. |
Uma
alteração perigosa, no entanto, foi a proibição da Igreja Católica de
que o Imperador do Divino adentrasse na Matriz com a coroa na cabeça.
Essa inovação veio da tumultuada época do padre Joel de Oliveira, seu
inventor, e foi homologada pela Diocese de Anápolis. Antes, muitos se
lembram disso, era comum o festeiro subir coroado até o espaço a ele
destinado, à direita do celebrante, e só ali, para seu conforto, caso
quisesse, depositaria a coroa em um local destinado a esse fim.
Qual
o problema dessa proibição? A resposta está na constante tentativa da
Igreja de intervir na parte profana da Festa do Divino. Isso vem de
longa data, só que antigamente o povo era mais corajoso que hoje e não
aceitava tais intervenções. A Igreja quer diminuir a influência da coroa
sobre a população porque ela é uma peça entronizada (elevado ao patamar
do trono, como as relíquias sagradas e os santos). Mexer na relação
entre o pirenopolino e a coroa pode ser um tiro no pé porque tem forte
chance de abalar para sempre a espontaneidade da festa.
Esses são apenas alguns exemplos de alterações no modo de o povo manifestar sua arte, crença etc.
Esses são apenas alguns exemplos de alterações no modo de o povo manifestar sua arte, crença etc.
Aguardemos a entidade e reflitamos sobre o que escrevi acima. São tempos difíceis para todos nós que nos preocupamos com a cultura.
Adriano Curado
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