Ninguém
soube explicar o motivo de Samara deixar seu emprego de executiva de
uma multinacional, terminar um relacionamento amoroso de cinco anos com
Cláudio, vender todos os seus bens, inclusive discos e livros, e
desaparecer assim sem maiores notícias. E foi exatamente o que ocorreu.
Por mais que a direção da empresa insistisse para que ficasse, já que
era a diretora mais capacitada, ela estava irredutível. Em pouquíssimo
tempo conseguiu vender o apartamento bem localizado, o carro de ano e
meio de uso, a ampla biblioteca que tanto ciúmes tinha. Desfez-se de
tudo, enfim, recebeu as verbas indenizatórias a que tinha direito e
partiu.
Quero
dizer, antes de partir teve que romper com o namorado. Pobre Cláudio.
Quase enlouqueceu o rapaz o adeus inusitado que Samara lhe lançou na
cara no mesmo dia que foi falar com ela do noivado. Dizem por aqui que
ele meio que surtou, não fala mais coisa com coisa, e até foi visto em
andanças sem razão na zona das casas de tolerância. Seus irmãos temem
que ele tente o suicídio. Bem, como esta narrativa não trata de Cláudio,
resta-nos torcer para que ele supere logo tudo isso e fique bem.
Samara
deletou contas de e-mail e perfis em redes sociais, encerrou a
conta-corrente no banco, cancelou assinaturas de revistas e jornais,
enfim, desapareceu por completo do mundo. Muitos acharam que ele havia
se convertido a uma seita religiosa exótica ou que tinha a intenção de
se suicidar. Estavam errados. Samara queria viver. Plenamente.
E
foi assim que ela parou num dos pontos mais isolados do mundo: a
Sibéria russa. Frio extremo, dependência de aquecedores, sem energia
elétrica, internet, televisão ou rádio. Apenas um rádio transmissor de
longo alcance a liga com o mundo. Seu vizinho mais próximo está a
quarenta quilômetros de distância. E ela tem alguns problemas com ursos e
lobos.
Você
me pergunta agora: ela foi para lá por quê? E eu lhe respondo que foi
apenas para levar uma vida isolada. Cansou-se Samara das mesmices do
cotidiano, não quis um marido convencional que lhe desse filhos,
desistiu de trabalhar em algo que não lhe dava satisfação.
Na
pequena cabana Samara finalmente tem tranquilidade para escrever seu
romance, pintar paisagens deslumbrantes e até voltar a tocar na
esquecida flauta transversal. Será que sente falta da vida antiga? Creio
que ela só tem mesmo um arrependimento: não ter se decidido mais cedo.
Quantas Samaras existem nos dias atuais! Muito bom! Recentemente em um congresso de Telecom, estávamos conversando, alguns amigos e eu, sobre este novo mundo que vivemos...
ResponderExcluirUma quantidade enorme de informações porém com pouca análise ou aprofundamento...
Por força da profissão (trabalhei com vendas de produtos e serviços de telecomunicações por 20 anos) me identifiquei com Samara...
Tenho buscado meu espaço e gosto muito de ficar a sós comigo mesmo!
Gostei muito do texto!
Parabéns!