Hoje quero escrever sobre as esquisitices das pessoas. Todos nós
protagonizamos, cedo ou tarde, um daqueles momentos bizarros que mal dá
para acreditar depois. Mas tem gente que se supera e torna isso uma
coisa normal.
Por exemplo, tenho uma vizinha que só rega o jardim pelada. É muito
estranho ver aquela mulher sem roupa com uma mangueira alaranjada nas
mãos, enquanto assobia alguma futilidade. E o interessante é que ela
cumprimenta a gente normalmente, como se fosse a coisa mais natural do
mundo. E talvez seja mesmo. Afinal, foi assim que nascemos todos.
Outro dia fui a um barzinho com um amigo e o garçom abria a cerveja e
passava a mão no gargalo. Repetiu isso umas três vezes, até que não
aguentei e perguntei o motivo: "é para ver se não quebrou o vidro",
explicou-me ele todo solícito, e ainda concluiu paternal: "é para o seu
bem".
Há bastante tempo atrás conheci um homem que não fazia barba e cabelo e
também não cortava as unhas. Eu era criança e achava que ele era o
capeta em pessoa. Uma imagem tão esquisita que chegava a ser engraçada. O
cabelo era farto e liso e havia emendado com a barba, vez por outra não
dava para ver nada do seu rosto. Quando ele liberava os olhos da
cabeleira, fazia-o com as unhas pretas e nojentas. O coitado adoeceu e
foi para a UTI, onde cortaram tudo. Ao receber alta parecia outro homem,
mais jovem, rosto bonito, até arrumou uma namorada e se casou.
Eu também tenho algumas manias, principalmente quando estou às voltas
com um livro novo. Geralmente desenho o personagem, a casa que ele mora,
ou às vezes até uma cidade inteira. Então, à medida em que a trama se
desenvolve, eu recorto as passagens de cada personagem e espeto no
cenário que eu fiz. Tipo assim. Maria chorou em casa e depois foi ao
mercado. Escrevo as duas cenas, meto a tesoura nelas e com um percevejo
grudo o texto do choro no desenho da casa e o outro no respectivo lugar.
Trabalho simples quando se escreve um conto mas complicadíssimo num
romance.
Enfim, excentricidades e extravagâncias fazem parte do cotidiano de
todos nós, em pequeno ou grande grau, só não podemos deixar que tomem
conta da nossa essência e nos modifique até deixarmos de existir.
Adriano Curado
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