O conceito de felicidade é algo bem
abstrato. Às vezes estamos na plenitude de uma vida próspera e rica,
mas ainda assim não somos felizes. Outras, falta-nos quase tudo e ainda
assim estamos bem, em paz. Digo isso para contar a história de Miriam,
uma moça que perdeu os pais num acidente há dois anos. Mas ainda assim
tem sempre um sorriso no rosto.
Quando
eu me mudei para cá, eles já haviam falecido, mas me contaram que a
família era pequena, apenas os três (pais e filha). Levavam uma vida
tranquila na cidade do interior, faziam visitas, assistiam missas etc. O
pai trabalhava na aviação civil e a mãe era dentista. Saiu o casal para
passear e o carro em que estava caiu numa ribanceira. As causas do
acidente nunca ficaram claramente esclarecidas, dizem.
Fato
é que apenas Miriam restou naquela família. Deve ter sido um momento de
muita dor e tristeza. Algo desesperador tipo, ainda ontem tinha
família, hoje já não tenho. Só que agora, decorrido esse tempo, ela
parece ter superado o revés e decidido tocar a vida adiante. Cursa o
último ano de odontologia, mantém a casa aberta, iluminada, limpa. Não
tem namorado mas muitos amigos a visitam diariamente.
Vez
por outra, no entanto, ela se isola debaixo de uma gameleira velha e
ali fica em silêncio por uma ou duas horas. Sei disso porque a janela do
meu quarto emoldura aquela árvore onde ela se recolhe para meditar. Não
leva livro e nem ouve música. Apenas o silêncio e a solidão. Depois
Miriam recobra a sobriedade e volta ao convívio de todos.
Apesar dos pesares, posso afirmar que Miriam é feliz.
Adriano Curado
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