Diziam os “mais velhos” dos tempos de eu menino que “o peixe morre é pela boca”. Era o tempo em que as mães e as mestras nos ensinavam coisas a partir de provérbios. Coisa boa: eu vejo naquela prática o uso popular da literatura oralizada, pois os provérbios são passados pelas gerações. Naquele tempo em que se estudava Latim, descobri que provérbios vinham da antiga Roma dos Césares.
Infelizmente, alguns sujeitos da minha época decoraram para as provas mas não aprenderam para a vida. Refiro-me ao sexagenário que, travestido de senador da República mesmo sem votos, apresenta uma proposta surpreendente: a de eliminar o H do alfabeto na escrita nacional.
O Brasil bancou um acordo ortográfico que sofre graves resistências nos demais países lusófonos (não vou esclarecer a palavra; os leitores que vão a dicionários ou perguntem aos vizinhos, pois pesquisar e discutir são práticas saudáveis). Até agora, o benefício só apareceu na indústria livresca brasileira, que gastou milhares de toneladas de papel, a um custo ambiental que assusta Marina Silva; Portugal e as nações africanas da mesma língua desprezam tal acordo.Infelizmente, alguns sujeitos da minha época decoraram para as provas mas não aprenderam para a vida. Refiro-me ao sexagenário que, travestido de senador da República mesmo sem votos, apresenta uma proposta surpreendente: a de eliminar o H do alfabeto na escrita nacional.
Agora vem a nota mais triste, meus conterrâneos! O senador “representa” Goiás no Senado! E é preciso dizer que nós, goianos, letrados ou medianamente escolarizados, ou mesmo de poucas letras e ainda analfabetos, não temos culpa do que fez esse senhor!
Destaque: discuti o tema em duas ou três páginas do Facebook. Não existe, no nosso pequeno universo de leitores, escritores ou pessoas de bom papo, absolutamente ninguém que concorde com a estranha idéia. Um jornalista, amigo muito querido, aventou se a coisa não teria passado pelo deputado Tiririca; respondi-lhe que não, que o palhaço deputado é sábio o bastante para evitar uma idiotice de tal teor.
E já que falamos de políticos (?) despreparados, a outra historinha de hoje vem de uma também amiga de conversas no Facebook. A moça é uma trabalhadora exemplar: gari no interior de Goiás e, na mesma localidade, vende comida na feira, em fins de semana. Tem que trabalhar muito, afinal tem quatro filhos entre crianças e adolescentes e não tem ajuda. A duras penas, e acreditando certamente, também, em ditos dos mais velhos, dedicou-se a estudar.
A duras penas, como sempre, formou-se Pedagoga há poucos meses. Imaginem a delícia de uma alegria assim! Com tanto sacrifício e vencendo obstáculos de toda natureza, ela – uma bela mulata que o politicamente correto quer apelidar de afro-descendente – tem agora um diploma, conquistado com o esforço mental de seu aprendizado e o desgaste físico do trabalho árduo.
Pois bem: a primeira-dama de sua cidade formou-se, parece-me que também há pouco, em Serviço Social. Encarregada da ação social pelo marido prefeito, essa senhora de linhos e jóias comentou com a moça que precisa de uma auxiliar dedicada; a jovem pedagoga, sabendo do que se tratava, ofereceu-se, pois julga-se capaz. A primeira-dama subiu nas tamancas! Perguntou se a colega pedagoga (que ela não ouça dizer que são colegas) “não se enxerga, não tem espelho?”.
Minha amiga pôs-se a chorar. Eu teria gastado grande parte do meu rico vocabulário de baixo calão e de idéias afins; eu perguntaria se ela também não se olharia no espelho, pois apesar de sua elevadíssima auto-estima, o maridão poderoso deve nivelá-la por baixo quando freqüenta os bordéis noutras plagas (sei lá se isso acontece; mas, só para ofender, eu teria dito). Não bastasse isso, alguém puxa-saco do poder comentou com a minha amiga: “É isso aí, você fica muito melhor na vassoura do que na sala de aula”.
Pensei: o DNA dessa primeira-dama é o mesmo do senador? Ah, deve ser...
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Texto do Acadêmico Luiz de Aquino publicado originalmente em:
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