Nada a lamentar!
Recebi, minutos antes de me pôr a escrever estas linhas, da professora Graça Tostes (amiga de infância, aquele tempo feliz de nossas lembranças, num recanto feliz do Rio de Janeiro – o meu inesquecível bairro de Marechal Hermes), um interessante texto sobre o fim de algumas coisas muito importantes hoje: os correios, o cheque, o jornal, o livro, o telefone fixo e – pasmem, que eu fiquei pasmado! – a música.
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Gutemberg e a prensa![]() |
Há mais coisas, mas de menor peso no nosso quotidiano. Temos, todos os que lemos, um apreço inestimável pelo livro, considerado por muitos o mais perfeitodesign já concebido, pois preserva a mesma forma há cinco séculos. Mas quantos somos nós, os leitores, em todo o mundo? E ainda que, juntos, formemos uma percentagem pequena na humanidade viva, temos de admitir que somos muito mais hoje do que há 500 anos.
Mas a música? Será que desaparece mesmo? Não acredito. As artes são manifestações espontâneas do bicho sapiens, a gente estuda para saber mais e para produzir cada vez melhor, para evitar repetições etc. O texto a que me refiro vem com a linguagem de Portugal – a construção das frases, os verbos flexionados sem gerúndios, e o telefone celular chamado de telemóvel são fortes indicativos.
Na Europa, sabemos, a música popular, por exemplo, não tem transformações há muito tempo; e do lado de cá do Oceano Atlântico – isso me foi despertado por um amigo há 35 anos – somente nos EUA e no Brasil a música passava por evolução (naquele tempo não vislumbrávamos que as gravadoras viriam impor à sociedade a música digerível pelo intestino, sem gastar tempo no estômago para ser notada pelo cérebro).


Tudo bem, mas por que nos preocuparmos? Há cem anos, começava a desaparecer da lista de profissões e empregos a figura indispensável (para a época) do acendedor de lampiões – e os lampiões de gás (a gás) foram tema de belíssima valsa de Zica Bérgami (1913-2010), gravada pela divina Inezita Barroso. Os bancários (fui um deles por 30 anos) também estão desaparecendo, pois os bancos inventaram um modo de fazer com que o cliente “trabalhe” no lugar dos antigos profissionais.

Texto do Acadêmico Luiz de Aquino, publicado originalmente em http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.br/