A magia da seca
Chegou devagar o
friozinho de seca, de ar com pouca umidade, de dias curtos e noites
longas. Vem pela aragem um cheiro de fumaça, de renovação dos
campos do cerrado. Aves migratórias passam no céu azul e se vão
para outras paragens. Um certo mistério toma conta do Planalto
Central nesta época, e eu me reporto aos velhos causos de
assombração que ouvia ao borralho dum fogão a lenha.
Aproxima-se a época das
comemorações ruidosas e coloridas de Pentecostes, que por estas
bandas se traduzem mais efetivamente na Festa do Divino de
Pirenópolis. A população está alvoroçada e dedicada aos afazeres
que precedem os festejos: doceiras, bordadeiras e costureiras,
cuidadores de animais, fabricantes de máscaras, carpinteiros de
camarotes etc., já começam a ensaiar a arte de seus ofícios.
Da casa do Imperador,
entremeio aos planos para o bom desenvolvimento dos trabalhos, e em
breve grande será a movimentação por lá, vem o pedido de ajuda à
população. Não tardam as doações dos devotos, o oferecimento de
mão de obra voluntária, o recolhimento das esmolas advindas das
folias e da arrecadação da coroa.
Quando passar a época
dos festejos de Pentecostes, então virão as festas da Capela do Rio
do Peixe, em louvor a Senhora Santana, e do Morro dos Pireneus, em
reverência à Santíssima Trindade.
Com o fim de julho,
entretanto, dá-se por findo o calendário para principais festas da
seca. E quando o clima era mais regular, a cidade já se preparava
para a chegada das águas e o conseguente plantio (arroz, entre
setembro e dezembro; milho, outubro a dezembro; mandioca, setembro a
dezembro). Ou seja, iniciavam-se as chuvas e o povo pegava no cabo da
enxada para cuidar da subsistência, até a festa do Natal.
Adriano Curado