Israel de Aquino Alves
Israel de Aquino Alves
(Pirenópolis, 30.7.1922 – Caldas Novas, 14.11.2011) foi um grande
músico, seresteiro, cantor e compositor pirenopolino.
Israel era o filho mais
velho do maestro Luiz de Aquino Alves e de Ana Pereira Alves. Muito
cedo, e por pressão materna, aprendeu a tocar violão e aprimorou-se
nos exercícios, o que lhe garantiu excelentes referências nas
execuções. Ainda muito moço, desenvolveu-se também na execução
do bandolim, com passagens por clarineta, saxofone e cavaquinho.
Aos 17 anos (janeiro de
1940), mudou-se para Caldas Novas. Ali, conheceu o jovem José Pinto
Neto, da mesma idade, e o gosto por música os aproximou numa amizade
para toda a vida. Foi em parceria com Zé Pinto que Israel produziu
sua primeira composição – a valsa Ana, com letra do amigo,
cantando a saudade da mãe, que faleceu em 1936, quando Israel tinha
apenas 14 anos.
Com Zé Pinto sempre ao
lado, Israel instituiu as serenatas em Caldas Novas. Acompanhado dos
amigos Antônio e Cruz, formaram um quarteto que também animava
bailes e outras festas na pequena cidade balneária.
Em 1942, conheceu a jovem
Lilita (Elia Borgese de Aquino Alves), mineira de conquista, neta de
um dos mais vetustos cidadãos de Caldas Novas, o italiano Donato
Ríspoli. Dois anos depois, casavam-se e essa união se estendeu por
59 anos e seis meses, quando a companheira faleceu, aos 80 anos (era
21 de março de 2004).
O casal teve cinco filhos
– Luiz, Edmar, Eliane, Ângelo e Maria Auxiliadora. Em 1978,
mudou-se de volta para Pirenópolis, mas não pôde a família ficar
na cidade por mais que dois anos; por falta de emprego, Israel e
Lilita retornaram a Caldas Novas. Após essa época, ele voltou a
compor, especialmente chorinhos. Com o surto turístico em torno das
águas termais, Israel animava serestas na Pousada do Rio Quente e em
hotéis e clubes da cidade. Trabalhou como comerciário até seus 80
anos, só parando com o ofício por conta dos cuidados com a saúde,
agravados com a viuvez.
Ele foi o primeiro maçom
a iniciar-se na Loja Maçônica Segredo e União, da Caldas Novas, em
1946. Em 2006, foi agraciado com a Medalha, diploma e carteira da
Ordem de Dom Pedro I, a mais elevada honraria do Grande Oriente do
Brasil, entregue por um “irmão” do Oriente do Lavradio – a
sede nacional do Grande Oriente do Brasil –, que veio a Goiás
especialmente para condecorá-lo. O “velho bode” orgulhou-se até
as lágrimas com aquela distinção, pois apenas um maçom, em Goiás,
teve tal homenagem, antes dele.
Em junho de 2011, cinco
meses antes de sua morte, recebeu da Câmara Municipal o honroso
título de Cidadão Caldas-Novense, e a edilidade local desculpou-se
com a família: “Pensávamos que ele era filho desta terra; só
agora, por informação da Academia de Letras e Artes de Caldas Novas
fomos informados e apressamo-nos em homenageá-lo”.
Israel de Aquino Alves
era também membro efetivo (Cadeira nº 2) da Academia de Letras e
Artes de Caldas Novas, do que muito se orgulhava. E ao receber o
diploma de Cidadão Honorário, comentou comigo: “Até eu mesmo
pensava que era daqui”.
Compreendi bem o seu
sentimento. Foi o que pensei eu, Luiz de Aquino Alves Neto, seu
primogênito, ao receber o título de Cidadão Pirenopolino: “Mas
eu sou daqui!”.
Ao velório de seu corpo,
compareceram centenas de pessoas de Caldas Novas das mais variadas
idades. Para uns, era o Rael, ou o Raé, ou o Isael – pronúncias
variantes de uma prosódia bem sul-goiana em torno do nome bíblico;
para muitos, era “o tio Rael”, ou o Vô Rael (para os amigos e
amigas dos netos). Para alegria da filharada ali reunida, ficou uma
certeza que não se desfaz: ninguém esteve ali para ser solidário
com filhos e netos, mas efetivamente para a despedida do grande
seresteiro e compositor pirenopolino que dividiu seu coração entre
Meia-Ponte e as águas termais goianas.
É Patrono da Cadeira nº XXXIV da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música.
Texto do escritor Luiz de Aquino, filho do biografado.