Um dia de Poesia

Lá pelos idos dos anos 80, um poeta jovem daqui da terrinha, Tagore Biram, conseguiu que a Câmara Municipal de Goiânia aprovasse uma decisão bonita: todos os anos, em dia mais próximo a 14 de marco, haveria uma sessão especial daquela Casa de Leis voltada exclusivamente para a Poesia. Tagore Biram mudou-se, foi morar no Chile, foi morrer no Chile (precocemente, aos 40 anos, em 1998). E desde que ele se foi, a Câmara Municipal de Goiânia e nós, os poetas goianienses, esquecemo-nos daquela decisão legal.

Tagore Biram (1958/98)

Sempre que me perguntam sobre poesia, respondo que a essência poética é do próprio ser humano e pode ser traduzida como a busca pelo mais belo e pela melhor forma – o melhor modo de se fazer qualquer coisa. Em suma, isso a que chamamos de arte. E os modos mais simples ou simplórios de se fazer arte estão na escolha das formas e cores das nossas roupas e calçados, nos objetos e coisas que compramos, no modo de dizer algo e é ápice na conclusão de uma peça de arte, desde uma canção ou melodia até os requintes de uma tela pintada, do bronze ou o mármore esculpidos e tem a melhor tradução na linguagem poética, escrita e (ou) falada .

As casas de leis (já que citei a Câmara Municipal de Goiânia), todas elas, contratam “experts” da Língua para finalizar os textos de seus “diplomas legais”; as empresas e repartições públicas  procuram conhecedores (redatores) para não fazer feio em seus textos oficiais. E muitos são os gestores, públicos e da iniciativa privada, que não disfarçam o orgulho por contar com um profissional literato em seus quadros (bem podiam pensar em remunerar melhor tais profissionais; mas o comum é pagar bem a uns raros profissionais e aos fornecedores de drogas, não é mesmo?).

Camões
Os poetas, em resumo, servem bem é à história dos povos. Isso, desde a antiga Grécia, séculos antes de Cristo. São inesquecíveis os poetas romanos e os que pontearam os fatos e feitos da humanidade ao longo também das chamadas Idade Média e Idade Moderna; foi Luís de Camões quem consolidou a nação lusitana com sua profícua produção poética, e seu contemporâneo Guilherme Shakespeare imortalizou a Língua Inglesa com seus poemas e peças teatrais, em textos igualmente imortais.

Shakespeare

No Brasil do Século XIX, o moço Castro Alves, nascido em 14 de Marco de 1847, expressou-se com força a maestria, a ponto de ser cognominado O Poeta dos Escravos. A partir dele, o movimento abolicionista ganhou corpo entre os intelectuais brasileiros. E em Cuba, José Martí surgiu, atuou e morreu marcado pela poesia e pela bravura de seus atos em combates pela liberdade. Neruda simboliza o Chile; Jorge Luís Borges, a Argentina; Pessoa, o Portugal destes tempos...
Gilka Machado

Eugênia Moreira
O Século XX, no Brasil, foi o período em que as mulheres despontaram também no fazer poético, e reporto-me a Gilka Machado, poetisa que, ao lado da jornalista Eugênia Moreira, escandalizavam a Capital Federal da década de 20, totalmente renovada pelas ações do prefeito Pereira Passos. Gilka escrevia poemas atrevidos até mesmo para os conservadores de agora; e Eugênia Moreira fumava charutos, falava palavrões e contava piadas “masculinas”... Era o Brasil do primeiro pós-guerra, aquele. Outro viria vinte anos após e renovaria o surto de novidades chocantes. A proliferação da Poesia no Brasil estava determinada e era irreversível.

Até eu me tornei poeta (desde 1961). Os primeiros poemas, felizmente, perderam-se no tempo, eram concebidos pela inocência de um adolescente ginasial, desde sempre um “menino apaixonado”, como me define, para aquela época, minha amiga Laurita da Luz, que escolheu para marido o meu melhor amigo, Paulo Fernando. E foi ela que, lá pelos idos de 1976, com uma curta frase ao telefone, cobrou-me a voltar à escrita dos versos.

E nunca mais parei.

Texto de autoria do Acadêmico Luiz de Aquino, publicado originalmente em http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.br/