José Abadia de Pina
José Abadia de Pina (Pirenópolis 07.05.1923 – Anápolis, 22.09.1983) foi vereador, fazendeiro, incentivador da cultura e da tradição, um dos responsáveis pela sobrevivência das Cavalhadas de Pirenópolis, evento do qual participou entre os anos de 1940 e 1972.
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Foto: Lulu de Pina (Arquivo da Família Pina) |
__ Família __
Zé Lulu, como era conhecido, filho de Luiz Abadia de Pina e Inácia Lopes de Pina, era o mais velho de dez irmãos: Joaquim Neto (Seo Quinho), Hugo, Geraldo, Terezinha, Rosaura (Laíca), Luiz, Antônio, João e Mauro.
Foto: casarão da Família Pina |
Nasceu numa família de artistas, neto do grande maestro Joaquim Propício de Pina, fundador da Banda Fênix, sobrinho do teatrólogo Sebastião Pompêo de Pina. Desde criança José já se apresentava em peças teatrais infantis, incentivado pelo avô maestro. Mas foi ainda adolescente, aos 12 anos de idade, que pediu ao pai autorização para se apresentar nas Cavalhadas, na função de soldado mouro ordinário.
Foto: casarão onde morou Zé Lulu |
Casou-se em 1945 com Maria Jaime de Siqueira, filha do casal Josafá de Siqueira e Adelaida Jayme, com quem teve duas filhas, Adelaide Marta e Beatriz, ambas casadas e com sucessão. Após o casamento, comprou, dos herdeiros do avô Mestre Propício, o casarão no Largo da Matriz onde nascera, até hoje pertencente à sua família.
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Foto: Fazenda Chumbado na década de 1950 (Arquivo Família Pina) |
Na década de 1940, Lulu de Pina recebera de herança do pai, Mestre Propício, uma fazenda de aproximadamente mil alqueires, ali construiu casarões coloniais semelhantes aos pirenopolinos e assim teve início a famosa Fazenda Chumbado. Ali José e sua esposa Maria moraram por mais de 30 anos.
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Foto: Zé Lulu em 1968 (Arquivo da Família Pina) |
__Cultura__
Quem sabe conduzir bem uma montaria, tem o que se chama boa mão-de-rédea. No caso do biografado, sua facilidade em se comunicar com os animais e saber conduzi-los pelo movimentado Campo das Cavalhadas arrancava aplausos da plateia extasiada. Ou seja, tinha uma impecável mão-de-rédea.
Foto: Zé Lulu (à esquerda) em apresentação no Largo da Matriz (1958) Arquivo da Família Pina |
José de Pina foi o Rei dos Mouros que ficou na história das Cavalhadas de Pirenópolis. Até hoje ele se perpetua na imaginação dos pirenopolinos, como uma lenda que sobreviverá ao tempo. Por viver em fazenda e desde pequeno não sair do lombo de mulas e cavalos, ganhou grande intimidade no manuseio desses animais. Quando resolveu participar das Cavalhadas, seu porte elegante sobre as montarias fez com que os pirenopolinos associassem sua imagem à do ator Charlton Heston, que fazia sucesso no cinema norte-americano à época com personagens como Judah Ben-Hur e El Cid.
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Foto: batismo em 1966 (Arquivo da Família Pina) |
Zé Lulu participou pela primeira vez das Cavalhadas de Pirenópolis em 1940, quando era Imperador de Divino Jácome de Siqueira, na função de soldado ordinário. Em 1953, quando Agostinho de Pina “caiu” Imperador do Divino, Lolô era Rei dos Mouros, e devido a algumas desavenças que não convém contar aqui, abandonou o posto. Então Zé Lulu virou Rei dos Mouros e Décio de Carvalho seu Embaixador. Correram juntos em 1953, 1957 e 1958, quando findaram-se as apresentações no Largo da Matriz, que foi destruído posteriormente.
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Foto: Cavaleiros voltam do ensaio em 1966 (Arquivo da Família Pina) Os quatro primeiros são: Lalau, Zé Lulu, Dito Zafá e Fiíco Na janela, Dona Semírames, mãe de Emílio de Carvalho |
Quando as Cavalhadas voltaram a ser apresentadas, como não havia mais o velho largo, as encenações tiveram de ocorrer no campo de futebol Dr. Ulisses Jayme, localizado na Rua do Campo. Era o ano de 1966, quando Mauro de Pina foi sorteado Imperador do Divino, e Fiíco da Babilônia passou a ser Embaixador dos Mouros, embora Zé Lulu permanecesse Rei.
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Foto: Zé Lulu empina seu cavalo na vertical em 1966 (Arquivo da Família Pina) |
Apresentou-se pela última vez nas Cavalhadas em 1972, festa de Cloves Afonso de Oliveira. No ano seguinte, festa de José Inácio Gomes da Silva (Inacinho), por causa da doença de seu pai, José não quis mais correr.
Zé Lulu e Fiíco da Babilônia em 1968 (Arquivo da Família Pina) |
__Cavalhadas perto do fim__
Em 1934, quando caiu Imperador do Divino, Lulu de Pina salvou as Cavalhadas do fim, ao juntar velhos cavaleiros e alguns moços e fazer com que o evento voltasse a acontecer. O mesmo ocorreu quando, em 1958, houve a última apresentação das Cavalhadas no Largo da Matriz, que em seguida foi ocupado pela praça, salão paroquial e prédio do correio, e esse folclore foi esquecido.
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Foto: Imperador Mauro de Pina (1966), tendo José em primeiro plano e Lulu logo atrás. Foto: Arquivo da Família Pina |
Em 1966, Mauro de Pina foi sorteado Imperador e seu pai, Lulu de Pina, novamente articulou para salvar essa manifestação cultural pirenopolina. Para isso, Lulu deixou a cargo do filho José a difícil tarefa de recriar o evento. Foi preciso trazer de volta os veteranos e garimpar rapazes interessados em participar das apresentações, até completar os 24 cavaleiros. Para ajudar Pirenópolis, vieram bons cavalos de Goianésia e indumentária dos cavaleiros de Palmeiras de Goiás.
Deu certo. Venceslau Antônio de Oliveira (Lalau) foi Rei Cristão e Benedito Jayme (Dito de Zafá), Imperador. Zé Lulu foi Rei Mouro e Manoel Mendonça (Fiíco da Babilônia), Embaixador.
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Foto: Zé Lulu e Fiíco da Babilônia em 1968 (Arquivo da Família Pina) |
As Cavalhadas de Pirenópolis voltaram em 1966 e, salvo uma falha em 1970 (porque morreu o prefeito e irmão do Imperador), nunca mais deixaram de ser apresentadas na cidade.
__Considerações Finais__
Das apresentações de Zé Lulu nas Cavalhadas ficaram suas performances perfeitas sobre os cavalos, principalmente no instante das embaixadas, quando empinava as montarias numa ângulo tão vertical, que parecia que ambos cairiam. Também eram espetaculares as lanças que atirava sobre o arco das argolinhas, passava o cavalo em disparado galope por baixo e a alcançava lá na frente, antes que pudesse tocar no chão.
Foi Imperador do Divino no ano de 1947, quando fez uma fenomenal queima de fogos no Largo da Matriz e ofereceu um churrasco nas Lages para toda a população pirenopolina.
Foi Imperador do Divino no ano de 1947, quando fez uma fenomenal queima de fogos no Largo da Matriz e ofereceu um churrasco nas Lages para toda a população pirenopolina.
Zé Lulu morreu em 1983, aos 60 anos de idade, vitimado por um câncer. Deixou largo círculo de amigos e nunca praticou um ato sequer que pudesse pingar uma nódoa em sua biografia. Sua viúva é viva, quase nonagenária, e ainda mora no mesmo casarão histórico do Largo da Matriz. Pelo esforço em manter viva a tradição pirenopolina, pelo esforço que empreendeu para não deixar perecerem as Cavalhadas, Zé Lulu merece, com louvor, figurar entre os Patrono da APLAM.
É Patrono da Cadeira XXXVIII da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música.
É Patrono da Cadeira XXXVIII da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música.
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Foto: Festa do Divino de Zé Lulu em 1947 (Arquivo da Família Pina) Foi servido um churrasco a todos os pirenopolinos nas Lages |
Fontes de pesquisa:
A) Bibliografia:
- ALMEIDA, Renato. Cavalhadas dramáticas. Folclórica – Revista do Instituto Goiano do Folclore, Goiânia, n. 3, ano 2, 1973.
- ALVES, Luiz Antônio. Pirenópolis: Festa do Divino. Cultura – Publicação do Ministério da Educação e Cultura. Brasília, ano I, n. 2, 1971.
- BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Cavalhadas de Pirenópolis. Goiânia: Oriente. 1974.
- CARVALHO, Adelmo. Pirenópolis, história, turismo e curiosidade. Goiânia: Kelps, 2000.
- CURADO, Glória Grace. Pirenópolis; Uma Cidade para o Turismo. Goiânia.: Oriente. 1980.
- JAYME, Jarbas. Família Pirenopolinas: ensaios genealógicos. v. 1. Goiânia: UFG, 1973.
- PEREIRA, Niomar; VEIGA JARDIM, Mara Públio de Sousa. Uma festa religiosa brasileira: festa do Divino em Goiás e Pirenópolis. São Paulo: Conselho Estadual de Artes e Ciências Humanas, 1978.
- PINA FILHO, Brás Wilson Pompeu de. Folclore Goiano: Festa do Divino em Pirenópolis. Aspectos da Cultura Goiana. Goiânia, v. 2, 1971.
- SILVA, Mônica Martins da. A Festa do Divino. Romanização, Patrimônio & Tradição em Pirenópolis (1890 – 1988). Goiânia: Agepel, 2001.
- SIQUEIRA, Vera Lopes de. Tradições Pirenes. 2ª edição. Goiânia. Kelps. 2006.
B) Pessoas entrevistadas:
- Alaor de Siqueira;
- Benedita Lopes de Siqueira (dona Ita);
- Boanerges Pireneus de Oliveira.
- Euler de Amorim;
- João José de Oliveira;
- João Lopes da Silva (Joãozico Lopes);
- Lélia de Pina Amor;
- Maria d'Abadia Pina Godói;
- Maria Jayme de Siqueira Pina;
- Manoel Ignácio de Sá;
- Nadiédia de Oliveira;
- Sebastião Dias Goulão;
- Sebastião Pereira (Bidoro);
- Silvino Odorico de Siqueira;
- Venceslau Antônio de Oliveira (Lalau);
- Violeta de Aquino.
Agradecimento à Família Pina, que me emprestou as fotografias históricas e muitas informações importantes, assim como aos entrevistados.
Adriano César Curado
Fonte: http://cidadedepirenopolis.blogspot.com.br/2012/07/ze-lulu.html