Ansiedade virtual



É da minha memória um provérbio, ou ditado popular, corrente entre os nossos roceiros dos meus verdes anos “Um gambá cheira o outro”.

Isso pede algumas explicações. Primeiro, esclareço aos jovens e especialmente aos adventícios que o Brasil mudou muito em poucas décadas – e Goiás mudou muito (mudou demais) nesse mesmo período – período esse que me transportou dos tempos da cara imberbe até as cãs destes dias que antecedem a Copa do Mundo outra vez no Brasil.

As mudanças em Goiás vieram com Brasília. E, logo em seguida, com a televisão, que incorporou o videotape (pesquisem!), o telefone integrado à rede nacional, as rodovias asfaltadas, as transmissões em micro-ondas, depois “via Intelsat”... E vieram as redes nacionais de tevê, depois o telefone celular, e aí a máquina mais maluca ainda do que a tevê, que matava de medo os pensadores da geração de jovens do tempo em que nasci – ou seja, a dos meus pais: a cibernética chegou com força, deixou de ser algo parecido com ficção científica para se tornar quotidiano.

Em 1992, com ligeiro atraso, aceitei ser “apresentado” ao computador – até então, eu era “moderninho” porque usava máquina eletrônica (de escrever), tal como meus saudosos amigos (mais velhos) José Pinto Neto e Jacy Siqueira. E em 1996, embrenhei-me na misteriosa selva da Internet. Em breve, eu tinha minha página (site) de poesia e essa (hoje, aquele endereço não existe mais) foi uma das três primeiras a integrar o portal mundial de poesia da UNESCO.

Primeiro os “chats”, depois o Orkut e, por agora, o Facebook, onde venho removendo contatos que não fazem contato para dar lugar a novos contatos, pois já bati, há tempos, no limite de cinco mil; e não quero abrir novo perfil (página). Os parágrafos anteriores ainda não justificam tudo a propósito do que quero falar, mas vou resumir agora: aquele ditado bem goiano de meio século atrás quer dizer que os iguais se atraem, apenas isso. E desde que me tornei um “internauta” (as aspas são apenas por respeito ao neologismo cibernético), imiscui-me no mundo da poesia brasileira – a poesia acadêmica ou não, popular ou não. O fato é que fiz dezenas, centenas de novos amigos e boa parte dessas pessoas tornaram-se amigos pessoais, pois recebi em Goiânia alguns poetas que vieram conhecer-me, bem como empreendi viagens para conhecer de perto colegas de outras paragens.

Dentre estes, a poetisa com quem mais recentemente troquei linhas de conversa é Lucelena Freitas; e ela chegou por conta de uma amiga a quem visitei em Guarulhos, SP, em 1997 – Rosa Ferraz, que citou nossa amizade e minha visita, ilustrada com um poema de que ela gosta, concebido por mim justamente para homenageá-la. Lucelena está em https://www.facebook.com/lucelena.freitas.35 e em sua Linha do Tempo ostenta um poema chamado “Prazer em conhecer”.

Ela descreve uma nova forma de ansiedade, ou angústia, que se manifesta por conta da instantaneidade da Internet. A intimidade virtual, esse hábito de confissões mútuas, de segredos trocados entre pessoas que permutam confianças e confidências, incrivelmente facilitadas sem a magia dos olhares cruzados.

O fato é que, apesar da mágica da nova tecnologia, da irreversibilidade dos moderníssimos aparelhos de bolso (que substituem os agora prosaicos celulares e os notebooks), a gente carece de toques, de olhares, sorrisos que valem palavras ou carinhos.

E temos de admitir: nada como um caneco de chope ou uma xícara de café, um sorvete ou um suco gelado, desde que, frente a frente ou lado a lado, duas pessoas troquem a energia física só perceptível nas presenças.

Beijo, Lucelena! Marquemos um café – em Goiânia ou em Agudos, SP.