MARLENE FLEURY

 MARLENE FLEURY





     Marlene Fleury (Pirenópolis 25.6.1940 – 28.2.2013) foi professora, catequista e uma grande incentivadora da cultura pirenopolina.

     Filha de Ilda Siqueira e Boanerges Fleury, Marlene era a mais velha das quatro filhas do casal. Tataraneta do grande maestro Antônio da Costa Nascimento (Tonico do Padre). Sua mãe era uma afamada costureira em Pirenópolis, excelente bordadeira, especializada em vestidos de noiva. Seu pai era um modesto caminhoneiro.

Casarão onde nasceu Marlene Fleury
     Dona Marlene nasceu com um grave desvio nas vértebras da coluna, deficiência que a fazia caminhar torta, mas sua habilidosa mãe conseguia contornar o problema com discretos reparos nos vestidos. Só que seu pai não se conformava com isso, então juntou todas suas economias e em fevereiro de 1954 internou-a no Hospital das Clínicas em São Paulo/SP. Durante a cirurgia, um provável erro médico a deixou paraplégica. Nem sentar ela podia mais, passaria o resto da vida deitada numa cama.

     E o que para a maioria das pessoas seria um inferno existencial, para ela se tornou uma forma de melhorar a qualidade de vida das pessoas. No velho casarão que pertenceu a Tonico do Padre, ali na lateral da Matriz, dona Marlene montou sua escolinha de cultura. A juventude que lá frequentava aprendia a tocar violão, bordar, pintar, desenhar as primeiras letras, mas o maior dos ensinamentos era mesmo a “vida”.


     Ela parou de estudar na 4ª série, pois para chegar à escola precisava ser carregada degraus acima, e isso era feito por sua mãe. Seu pai suicidou-se logo após o resultado desastroso da cirurgia. Esse fato foi um marco em sua vida. A partir daí, ela teve que se contentar em viver dentro de sua limitação. Inscreveu-se no Instituto Universal Brasileiro e, por correspondência, fez cursos profissionalizantes de crochê e bordado. Depois de formada, tornou-se funcionária pública da Prefeitura Municipal, embora ministrasse suas aulas em casa.

     Em seu sangue corria o gênio musical do tataravô Tonico do Padre e então ela aprendeu sozinha, apenas guiada pelo ouvido, a tocar o violão, instrumento que dominava muito bem. Era emocionante vê-la encaixar o violão no travesseiro e dedilhar suas cordas em solos que pareciam uma sinfonia de anjos. Seu espírito de colaboração com o próximo fez com que se tornasse também professora de violão e canto. Minha irmã estudou com dona Marlene.


     Sua verdadeira vocação era tornar-se freira, e isso vinha das missas que assistia na Matriz, mas devido à sua deficiência ela ficou impossibilitada de seguir para um convento. Então tornou-se catecista, e preparava crianças e adolescentes para a Primeira Comunhão, um dos sacramentos da Igreja Católica.

     Com a morte dos pais e o casamento das irmãs, Marlene decidiu que precisava ajudar mais pessoas. Em 1989, ela partiu de Pirenópolis para percorrer o Município e levar seu exemplo de humildade, sempre no afã de repassar os ensinamentos que aprendera. Em vinte anos ela percorreu doze povoados, até se aposentar em 2000 e se estabelecer em Caxambu.

     A comunidade local a ajudou a construir uma casa modesta, com portas largas para ela circular com sua cama de rodas. Ali ela passou a morar sozinha. Cozinhava num fogareiro ao lado da cama, onde havia uma pia e secador de pratos. No tanque, lavava a própria roupa e através de um sistema de roldanas, punha-as para secar ao sol lá no terreiro.

     Sua atividade em Caxambu continuou intensa. Ela ministrava aulas do Catecismo Católico aos adolescentes locais, e ainda ensinava desenho, pintura, bordados, crochê, tricô, violão etc. Tudo isso eu soube quando fui visitá-la em sua casa e ficamos horas em animada conversa. Ela era minha leitora, gostava de receber meus livros e depois me enviava cartas com críticas muito bem recebidas.

     Em 2010, dona Marlene adoeceu e não pôde mais ficar em Caxambu. Necessitava de cuidados médicos mais intensificados e então voltou a Pirenópolis. Sua saúde desde então passou a se deteriorar rápido e ela faleceu em 28 de fevereiro de 2013, aos 72 anos de idade.

Tonico do Padre, tataravô de Marlene

     O exemplo de vida dessa mulher singular precisa ser seguido. Ela nunca reclamou de nada, tinha sempre um sorriso no rosto e uma palavra de conforto. Jamais se apegou a nenhum bem terreno, inclusive lia os livros que ganhava e os repassa, pois achava que os outros também precisavam ter o oportunidade de lê-los.

     Por tudo isso, Marlene Fleury merece figurar entre os nossos biografados.

Fonte:

PINA, Braz Wilson Pompeu de. Antônio da Costa Nascimento (Tonico do Padre), um músico no sertão brasileiro. Revista Goiana de Artes, Instituto de Artes da UFG. Vol. 7, N 1º – jan./Dez. De 1986.
JAYME, Jarbas. Famílias Pirenopolinas (Ensaios Genealógicos). Goiânia, Editora Rio Bonito, 1973. Vol. II.

Minhas próprias memórias.

As fotografias de dona Marlene pertencem à Família Fleury

LAURITA VITORIANO DA VEIGA

 LAURITA VITORIANO DA VEIGA 


Laurita Vitoriano da Veiga (Campos Belos, 19/07/1939) é cantora, folclorista, bordadeira, professora, griô e rezadeira.

Filha de Austeclínio Vitoriano e de Idalina da Veiga, embora tenha nascido em Campos Belos/GO, mudou-se para Pirenópolis com um ano de idade, cidade natal de sua mãe, onde mora até hoje. Foi criada pela mãe e pelo padrasto, Sebastião Profeta do Amaral (Bastião de Chica), e ganhou dez irmãos.

Bastião de Chica, padrasto de Laurita, homem de grande sabedoria
  A lembrança mais antiga que tem é de quando morava com seu bisavô Joaquim Augusto Pereira da Veiga. Com apenas três anos de idade já participava das rezas e dos terços com ele e sua mãe. O primeiro hino que aprendeu com seu bisavô foi o Hino de Nossa Senhora da Conceição. E aos poucos aprendeu vários outros, pois cresceu acompanhando e participando das rezas.

Como é a mais velha dos irmãos, trabalhou muito e ajudou a criá-los, mas nem por isso deixou de brincar e cantar. Cantar era o que mais gostava. Aprendeu as primeiras letras em casa, pois naquela época só se ia à escola depois de conhecer o alfabeto. 

Casarão onde funcionou a Escola Com. Joaquim Alves
Estudou muito pouco. Só fez o primeiro ano (hoje ensino fundamental) na Escola Comendador Joaquim Alves de Oliveira, que funcionava na casa que hoje pertence aos herdeiros de José d'Abadia (Zé do Pina).

Laurita fazia de tudo um pouco. Lavava roupa no rio - roupa da família e também para fora, um meio de ganhar dinheiro. Do mesmo modo, cozinhava, fazia adobe, buscava lenha no mato, vendia legumes e frutas, ajudava a matar porco, fazia farinha, socava arroz no pilão, fazia aberém e catava frutos do mato. 

Outra atividade sua era garimpar o mineral rutilo no Rio das Almas e também na terra. Leone Mendonça comprava e vendia para a produção de veículos durante a Segunda Guerra Mundial. 

Aprendeu a bordar muito cedo com sua mãe. Bordava e ainda borda vários tipos de pontos.

Cresceu com participação ativa nas rezas e terços. Foi com sua madrinha Rita Moreira, com sua mãe Idalina e com Maria Isabel da Veiga, mais tarde sua sogra, que aprendeu mais rezas e hinos. Aprendeu também difícil hino religioso Resposta do Perdão, e todos os cânticos das procissões.

Com 18 anos casou-se com o sapateiro Benedito Consuelo da Veiga (Dito Consuelo), com quem teve oito filhos. Seu esposo também fazia parte do grupo de rezadores. Com o tempo, o casal ficou responsável pelas rezas. E após o falecimento de seu marido, seguem apenas dona Laurita e duas de suas filhas com a tradição que já está no fim. 

Foi com o dinheiro dos bordados, especialmente enxovais de bebês e noivas, que tirou o sustento da família e ajudou no estudo de todos os filhos.

Reinado de N. S. do Rosário em Pirenópolis
Em 2007 seu esposo, Benedito Consuelo da Veiga, foi Imperador da Festa do Divino Espirito Santo, quando ela comandou os terços dos cavaleiros e principalmente a cozinha para centenas de pessoas. Fez ainda o Reinado de Nossa Senhora do Rosário e o Juizado de São Benedito em pagamento de uma promessa.

Laurita e seu esposo, com um grupo pirenopolino, participaram da gravação de um LP (Long-Play) intitulado:  Música do Povo de Goiás. Trabalho de alunas da Universidade Federal de Goiás (UFG), sob orientação do maestro Braz Wilson Pompêo de Pina Filho e da soprano Maria Augusta Calado, com apoio da Secretaria de Educação e Cultura.

Participa do Grupo dos Griôs da Guaimbê desde 2005 até hoje, onde atuou  em várias peças de teatro: Domingas e sua BurrinhaOpereta CaipiraO Tal do QuintalMemorial dos Ossos, dentre outras. O griô é um indivíduo que numa comunidade detém a memória do grupo e funciona como divulgador de tradições.

Foi tema nos livros: Caminhando com as Guerreiras - Criação Guaimbê, 2008; Flor de Pequi: Brincadeiras Populares – Criação Guaimbê, 2008; 

Coparticipou dos livros: Caminhos de Pirenópolis – Criação Guaimbê; A Vida Diferente – Criação Guaimbê, 2008; Andanças pelo Goiás – Criação Guaimbê, 2008; Brasil Memória em Rede: Um Novo Jeito de Conhecer o País – editora Casa Aberta, 2010; Criancerias de Quintal – Criação Guaimbê, 2015.

Participou também das gravações dos seguintes Compact Disc (CD): Extremosa Rosa, com Roberto Correa, 2001 no Zen Studio, Brasília. Cantos de Presépio e Cantos de Mutirão – Coleção Vozes do Bonfim, 2008.

Foi presidente do grupo Renascença da Terceira Idade de Pirenópolis de 2002 a 2004. Atualmente é vice-presidente da Associação de Mulheres do Bonfim, onde desenvolve trabalho voluntário com aulas de bordado.

As modas do cancioneiro popular foram aprendidas com sua mãe e até hoje canta nas festas e serestas.

Eleita para a Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (APLAM), tomou posse em 27/08/2016, Cadeira XL Patrono: Marlene Fleury.

Posse dos novos Membros Efetivos da APLAM
 Créditos:
- Texto baseado no trabalho de pesquisa de Laurita Vitoriano da Veiga e de sua família.
- Foto do perfil: Thais Valle

Adriano Curado

DÉBORA REGINA DE SÁ

 


DÉBORA REGINA DE SÁ, nome artístico Débora di Sá, é cantora, compositora, acrobata e atriz. Intensidade, presença de palco e uma refinada técnica vocal são marcas que distinguem a presença musical de Débora di Sá, que sempre impressiona o público que acompanha suas apresentações ao vivo.

Nasceu em Goiânia em 22 de julho de 1974. É filha do Dr. Joaquim Henrique de Sá e de Sone Maria de Pina. E embora nascida na capital goiana, tem sua raiz na cidade de Pirenópolis, onde atua desde muito jovem em festas sacras e peças teatrais.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL
  • Graduou-se em Canto pelo Instituto de Artes da UFG, em 1995.
  • Curso de ator e câmera com Tizuka Yamazaki (2001), no Rio de Janeiro.
  • Curso de Tecido Acrobático Aéreo na Escola de Educação Profissional em Artes Basileu França e no Circo Lahêto (2005).
  • Curso de Formação em Coreografia pela FUNARTE e pela AGEPEL (2010).
  • Curso de Teatro Musical no 4 ACT (2013).
  • Curso de pole dance (2014 2015).
  • Curso de solo acrobático no Circo Laheto (2015 a 2016).

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL:
Em 1992 começou a se apresentar em bares. Em 2000 gravou seu primeiro CD “O Universo do Sr. Blan Chu” com a banda Sr. Blan Chu, que foi escolhida como “Banda Revelação” de 2001 pelo site “Tudo da Música”, da Globo.com. Também em 2001 recebeu a Comenda Colemar Natal e Silva e o Diploma de Destaque Cultural. Seu trabalho foi registrado em disco, tanto como cantora quanto compositora da Banda Senhor Blan Chu, onde atuou até o início de 2003, quandse destacou em participações em discos de outros cantores e compositores, destacando-se no panorama da música popular em Goiás.

Defendida por Débora de Sá, a música "Vapor e língua" foi finalista do I Festival IBM de MPB pela internet (E-festival), em 2001, ficando em segundo lugar. Mas sua performance foi destacada pela crítica especializada, o que pode ser comprovado pelas elogiosas referências constantes no site do cantor e compositor Gilberto Gil, onde aquele trabalho continua sendo divulgado através das três emissoras de rádio virtual integrantes daquele site. 

CÉLIA FÁTIMA DE PINA

 CÉLIA FÁTIMA DE PINA


Célia Fátima de Pina (Pirenópolis, ) é museóloga e ativista cultural.

Filha de Maria Eunice Pereira e Pina e Sebastião Pompeu de Pina Sobrinho. Graduada no curso de Tecnologia em Gestão de Turismo, em 2013, pela Universidade Estadual de Goiás de Pirenópolis – UEG. É curadora do Museu das Cavalhadas, projeto realizado por sua mãe Maria Eunice Pereira e Pina, o qual assumiu após seu falecimento, em 2005, dando continuidade às atividades do museu. Além de continuar recebendo visitantes, escolas, pesquisadores; de apresentar o acervo ao público e salvaguardar a memória e a cultura pirenopolinas, Célia Fátima de Pina passou a pesquisar e a inserir o Museu das Cavalhadas em novos projetos no sentido de manter, expandir e divulgá-lo. Sua primeira iniciativa foi tornar-se a proponente do Projeto Memorial das Cavalhadas. Uma vez aprovado o projeto pela PETROBRÁS, constituiu-se uma parceria com Associação Casa de Cora Coralina, entidade cultural de personalidade jurídica da Cidade de Goiás, a qual realizou o gerenciamento de todo Projeto das Cavalhadas.

Celina de Pina Fleury

 


Celina de Pina Fleury (n. Pirenópolis, 08/06/1923 - Goiânia 19/08/2020) é escritora, bordadeira, pintora e escultora.

Filha de José Odilon de Pina e de Maria de Siqueira Pina. Foi casada com Albace Fleury,

Formada pela Escola Normal Padre Gonzaga, 1ª turma de Normalista (1940). Foi professora por 19 anos em Pirenópolis, no Grupo Escolar Comendador Joaquim Alves de Oliveira; e por 6 anos em Inhumas-GO. 

Em 1993, para comemorar seus 70 anos, foi feita uma coletânea de suas poesias, resultando em um livro. Atualmente deve ter em média 200 prontas, entre poesias, contos e prosas.

Pintou diversos quadros, e tem também trabalhos em crochê, tricô fuxico e bordado. Esculpiu 500 peças do Divino Espírito Santo, tendo inclusive presenteado três imperadores da Festa do Divino de Pirenópolis.

Publicou: FLEURY, Celina de Pina. Memórias Poéticas, Edição da Autora: 1993.

Tereza Caroline Lôbo

 Tereza Caroline Lôbo é historiadora, professora e ativista cultural. É Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (2011), possui mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (2006) e graduação em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia Bernardo Sayão (1989). Atualmente é professora do curso de Tecnologia em Gestão de Turismo pela Universidade Estadual de Goiás e professora titular - Secretaria Estadual de Educação. Tem experiência na área de Geografia, História, Ciências Sociais e Sociologia, com ênfase em Festas Populares, atuando principalmente nos seguintes temas: festa, tradição e cultura.


FORMAÇÃO ACADÊMICA/TITULAÇÃO
2007 – 2011: Doutorado em Geografia (Conceito CAPES 6). Universidade Federal de Goiás, UFG, Brasil. Título: Capela do Rio do Peixe em Pirenópolis/Goiás: Lugar de Festa, Ano de obtenção: 2011. Orientador: Dr. Carlos Eduardo Santos Maia. 2004 - 2006

Mestrado em Geografia (Conceito CAPES 6). Universidade Federal de Goiás, UFG, Brasil. Título: A singularidade de um lugar festivo: o Reinado de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e o Juizado de São Benedito em Pirenópolis/Goiás,Ano de Obtenção: 2006. Orientador: Carlos Eduardo Santos Maia. Palavras-chave: Cultura; Festa; Identidades; Pirenópolis; Geografia Cultural.

Celestina Teixeira Siqueira

 SAFIA DOS PIRENEUS DE GOIÁS


SAFIA DOS PIRENEUS DE GOIÁS

Foto Edson Ges: Safia na Galeria Athos Bulcão (DF)  

SAFIA DOS PIRENEUS DE GOIÁS

Foto Edu Gama: O baile, de Safia
 

por Angélica Torres Lima 

SAFIA nasceu Celestina Teixeira Siqueira, a 8 de junho de 1929, no Morro do Pireneus, em Goiás, onde desliza o córrego chamado Gostoso. Habitava a vizinhança da família uma tribo de emas, entre as quais a menina cresceu brincando e correndo pelo cenário deslumbrante da Serra que volteia Pirenópolis.Tinha sete anos, quando os pais camponeses Anjo Teixeira Martins e Leduvina Rosa Venucci decidiram descer o morro com os três filhos pra viver na cidade.  

Lá, Celestina continuaria a dar sinais do futuro que a aguardava. Arteira, independente e sabedora do que queria de seu caminho, enveredava os brejos à cata de argila, matéria-prima de suas primeiras criações em forma de potes, bichos e bonecas. Volta e meia se queixavam ao pai: sua fia é danada de levada... sua fia fez isto... sa fia fez aquilo.... sua fia... safia... E assim consagrou-se o nome com que passaria a se distinguir no universo da arte popular brasileira.

No entanto, escola só freqüentou quando foi trabalhar em casa de família. Casou-se com um boiadeiro, voltou a morar na roça e o estudo virou matéria encerrada. Mas nem por falta de lápis, livros e professores sua genialidade de artista engaiolou-se. Ao contrário, o sobrevôo livre da menina entre as emas nos Pireneus de Goiás assentou-se em múltiplas expressões. Esculturas e telas em poética de cândida sensualidade, além de um manancial de poesias, histórias, canções e anedotas cultuadas oralmente, Safia cria com desmesurado talento.

Gênio e origem somados explicam a qualidade que sua obra alcançou. Safia herdou dos dois lados da família o gosto pela arte, trazendo no inconsciente o classicismo da estética européia. Bruno Teixeira, seu avô paterno, era tecelão, filho de portugueses; a avó, Escolasta Tavares, fazedora de panelas, potes, jarros, candeeiros, ensinou a arte da panelagem à sua mãe, cujo pai, descendente de italianos, era pintor de quadros.
Matriarca respeitada e admirada pelos seis filhos que criou sozinha (dos quais, três são também artistas populares), e pelos 14 netos e sete bisnetos, Safia não pratica arte sacra embora sua religiosidade seja visceral, e ao modo dela. “Não rezo, mas gosto de me sentar na Igreja e ficar lá”.

Segreda que talvez aceitasse se convidada a pintar um mural, ou o que fosse, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, patrimônio histórico da colonial Pirenópolis. “Mas”, reconsidera com humor, “gosto mesmo é de pintar moça dançando, menino pelado... eu ia ofender os santos”.

Foto Edu GamaSafia e a Matriz de Pirenópolis


Artista reverenciada por quem quer que conheça seu trabalho, ela, no entanto, permanece em anonimato, vivendo sozinha numa casa humilde, em Pirenópolis. Ao completar 80 anos em junho de 2009, lá, um grupo de admiradores de suas artes prepara-lhe grande celebração. Querem que em sua terra natal, sobretudo, Safia mereça reconhecimento e assuma o seu lugar na trindade goiana, ao lado de Cora Coralina e de Antonio Poteiro.
 

FORTUNA CRÍTICA

 João Evangelista, especialista em história da arte, ex-diretor dos museus de Arte de Brasília e de Santa Catarina: “Safia é um gênio da arte. Eu colocaria sua obra no capitulo do classicismo, mas teria uma certa dificuldade nisso, porque a arte de Safia é complexa”.

Ziraldo Alves Pinto conceitua Safia como a maior escultora de arte popular do Brasil, e aponta para o que ele chama de “o gesto culto” na poesia dos seus personagens de cenas rurais e urbanas, como cavalheiro e dama, casais em pista de dança, madonas com crianças à volta e no colo, jovens mulheres em lânguidas posições. “Ela é o máximo, é a maior”, vibra o multi-Ziraldo.

José Mindlin, ao visitar uma mostra de arte popular brasileira no MAB, onde estavam expostas peças de Safia, classificou: “Esta peça é a Vênus De Milo brasileira” (foto abaixo).


Alguma poesia oral de Safia
  

NASCI NOS PIRENEUS 

Nasci nos Pireneus
junto com meu pai eterno
numa campina tão bonita
no meio de muitas emas
num ranchinho na beira-córrego
rebuçado de sapé,
cobertinha de algodão
tomando chazinho de mé,
num colchãozinho pequeno
num  caquinho de buriti,
parecendo ninho de rolinha
ninho de juriti.

Um dia de garoa
já tava pra dar o inverno
eu tava perdida
no meio de muitas emas.

Minha mãe deu um grito
eu respondi.
Ela me encontrou
e me deu um tapa.
Meu pai também xingou.
Eu então respondi:
mas eu não gosto de vocês!
só das ema e do meu avô!

Depois, papai teve idéia de mudar,
nós se mandou.
Eu fiquei apaixonada,
porque as ema ficou.


MALEITA

É terreno do sertão
nem dado não aceita,
a gente compra um sítio
fica alegre e satisfeita.
Espera boa colheita
pode dar bom mantimento.
Mas bem pouco aproveita.
Quando a febre vem
o caboclo deita
chama o curador
e dá a receita,
purgante de tal
purgante de azeita
toma surufato
não pode beber leite,
quando for daí um pouco
o caboclo purga preto
eu falo porque sei
porque passei
por este aperto

Quem sofreu maleita
não tem mais conserto
ainda que cura de um
o peito.

VOZ DE PÁSSARO

Macuã e anúm preto
dizem que cantam assim:

“Minha mulher não presta
- não presta por que?
é com um e com outro
é com um e com outro”

“Finca, finca, eu ranço
pinico, pinico, jogo fora
primo com prima
se casá fazerá má.
Quá, pode casá!
Chica, cê vai, eu fico
cê fica, eu vou.
Fico, ficô”


NT.: Material de pesquisa e fotos do arquivo pessoal do advogado Eduardo Nogueira da Gama, colecionador, amigo e divulgador do trabalho de Safia. Texto de abertura escrito originalmente para documentário do cineasta Armando Lacerda sobre a artista.


Foi Membro Efetivo da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (APLAM),  Cadeira XX Patrono: Maria Fleury, cuja titular atual é Colandi Carvalho de Oliveira, pedindo desligamento da instituição por incompatibilidade com suas atividades artístiscas.

Waldetes Aparecida Rezende

 


Waldetes Aparecida Rezende
Formação Acadêmica : 
 Colégio Professor Pedro Gomes em Goiânia
Colégio Claretiano em Goiânia
Colégio Professor Faustino em Anápolis
Universidade Estadual de Goiás onde cursou Licenciatura em História
Universidade Salgado de Oliveira em Goiânia onde fez especialização em Formação Sócio-Econômica do Brasil

Atuação:
Atuou como Professora nível IV na Escola Estadual Benedita Cipriano Gomes de 1982 a 2011 quando aposentou  e durante esse período desempenhou funções de professora, gestora por três mandatos, coordenadora pedagógica, gerente de merenda.
Em 2009 inicia sua carreira de escritora e lança Santa Dica:História e Encantamentos
Em 2011 publica seu primeiro livro infantil A Menina que falava com os Anjos
Em 2013 ,  o segundo livro infantil Coração Goianiense
Passou a atuar como palestrante em escolas  de Ensino Fundamental e Médio e em Faculdades
E a receber acadêmicos de diversos locais que vem para conhecer Lagolândia  e a história de Santa Dica;
Participou de quase todas as edições da FLIPIRI , na venda e exposição de livros e na itinerância nas escolas .
Em 2015 participa de um documentário da serie No Meio do Nada da Diretora Simone Caetano
Em outubro de 2016 inicia um blog onde divulga poemas e poesias de sua autoria que contemplam variados temas.

Aline Santana Lobo

 


Aline Santana Lôbo tem diversificada experiência em pesquisa das manifestações culturais ligadas à área musical pirenopolina. Trabalha com alunos da rede pública e faz com que os mesmos tenham conhecimento da riqueza do folclores de Pirenópolis. 


E pirenopolina, cidade onde reside, filha de Sebastião Siqueira Lôbo e Marta Eniza de Oliveira Lôbo. Mãe de Walter, Laís, Elisa e Heloisa. Nutre desde seus ancestrais o gosto pela música, iniciando seus estudos ainda na infância.

Graduou-se em Pedagogia pela Faculdade da Associação Educativa Evangélica, especialista em Orientação Educacional e Docência Superior. Atualmente participa de projetos e grupos de pesquisas ligados a Universidade Federal de Goiás e é mestranda do Programa Territórios e Expressões Culturais do Cerrado, pela Universidade Estadual de Goiás.

No campo profissional atua como professora a partir de 1994 nas escolas públicas estaduais na cidade de Pirenópolis. Desde então, desenvolve atividades artísticas como teatros, saraus, musicais entre outros.

Telma Lopes Machado

 



Telma Lopes Machado (n. Anápolis, 14/01/1959) é uma pesquisadora gastronômica, ativista cultural e mantenedora da histórica Fazenda Babilônia.

Filha de (Nicão da Babilônia) e de Benedita Pereira Lopes. Seu pai foi grande músico, integrava o conjunto Turma da Babilônia tocando violão, ao lado dos irmãos Manoel Mendonça Lopes (Fiíco) na viola e Duque no bandolim.

É casada com Antônio Machado (Toninho), que é rei mouro nas Cavalhadas de Pirenópolis, e também violeiro, compondo a atual versão do Conjunto da Babilônia.

Telma hoje é uma referência no quesito gastronomia de raízes graças às suas incansáveis pesquisas de levantamento da história das receitas típicas regionais. Saber o que comiam nossos antepassados, a integração das classes sociais através dos alimentos e a mudança de hábitos alimentares com o tempo são fatores determinantes para conhecermos nossa própria história.

A esse conhecimento gastronômico Telma acrescenta um tempero peculiar, que é a história da Fazenda Babilônia, antigo Engenho de São Joaquim, construído em 1800 pelo Comendador Joaquim Alves de Oliveira, local histórico onde Telma reside com o marido Toninho.

Telma preserva a Babilônia com requinte, sem destocar das características histórica do lugar, e já é a geração de herdeiros da famosa fazenda. Ali está guardada uma parte significativa da história goiana, inclusive com relíquias como parte da vestimenta dos Revoltosos (político-militar brasileiro existente entre 1925 e 1927) que por ali passaram, estrutura física que suportava monumental engenho de moagem de cana e por aí vai. Nesse ambiente mágico ela pesquisa e desenvolve suas receitas tradicionais e as serve aos visitantes do Café da Manhã Sertanejo Goiano.

Sua dedicação à gastronomia é o exercício de uma arte, e das mais antigas, por isso foi eleita para ocupar a Cadeira


FORMAÇÃO
  • Curso Superior Incompleto (Psicologia).
  • Participou de cursos do Projeto Caminhos do Sabor (A união faz a força) no ano de 2008.

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL
  • Trabalha com turismo pedagógico desde 1997 na Fazenda Babilônia.
  • Idealizadora do Café Sertanejo na Fazenda Babilônia.
  • Consultora Gastronômica da Novela Araguaia da Rede Globo de Televisão.
  • Ministrou oficinas em várias edições do Festival Gastronômico de Pirenópolis.
  • Ministrou oficinas gastronômicas na Semana Folclórica organizada pelo SESC da cidade de Anápolis.
  • Ministrou oficinas gastronômicas durante varias edições da Semana Acadêmica organizada pela Universidade Estadual de Goiás Unidade Universitária de Pirenópolis, para acadêmicos do curso Tecnologia em Gastronomia.
  • Participou da organização do Festival Internacional de Folclórico e Artes Tradicionais (FIFAT), realizado pela UEG e Prefeitura de Pirenópolis do dia 25 a 31/08/2014.
  • Ministrou oficinas gastronômicas no Festival Gastronômico de Pirenópolis em agosto 2015.
  • Participou como Palestrante no Encontro Empório das Águas Quente Organizado pelo SEBRAE em Novembro 2014.
  • Participou como Palestrante e oficina gastronômica no Festival “Fartura” na cidade de Fortaleza em junho 2015.
  • Participou como Palestrante e oficina gastronômica do Projeto “Fartura” no Festival Gastronômico de Tiradentes em agosto 2015.
  • Participou como Palestrante e oficina gastronômica no XI Festival Gastronômico | IFG – Câmpus Goiânia em Outubro 2015.
  • Faz parte de dois Circuitos Turísticos: Quintais de Goiás e Cidades Históricas.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS
  • Classificada em nível regional para o prêmio Rodrigo de Melo 2007, na categoria Educação Patrimonial, prêmio oferecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
  • Pesquisadora de receitas típicas regionais.

Fonte:

1 Dados coletados com Telma Lopes Machado

2 Sites:
http://cozinhagoias.circuitogastronomicogoias.com.br/11-festival-gastronomico-ifg/
http://www.fazendababilonia.com.br/
http://www.pirenopolis.com.br/noticias/756-telma-lopes-da-babilonia
http://br.viadeo.com/pt/profile/telma-lopes-machado.machado
http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT208614-18292,00.html
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2012/01/23/interna_cidadesdf,287221/fazenda-bicentenaria-traduz-tempos-aureos-do-ouro-e-da-cana-de-acucar.shtml

3 Livros:
JAYME, Jarbas. Esboço Histórico de Pirenópolis., Tomos I e II. Goiânia: UFG, 1971.
JAYME ___. Famílias Pirenopolinas (ensaios genealógicos), Tomo I, Pirenópolis: Edição do Autor, 1973.


Maria Helena Corte Real

 


Maria Helena Corte Real é escritora.

Nascida em Cataguases, Minas Gerais, mudou-se bem jovem para Brasília/DF, onde trabalhou por muitos anos como funcionária de carreira do Superior Tribunal de Justiça.

Fluente na língua francesa, tem ampla cultura da terra de Napoleão Bonaparte.

Celuta Mendonça Teles

 CELUTA MENDONÇA TELES




Celuta Mendonça Teles (Pirenópolis, 17.08.1911 - Goiânia, 11.05.1995) foi escritora.


Filha de Carlos D'Abadia Mendonça e Adélia Aurora do Nascimento. Aos sete anos de idade fica órfã de mãe, vitimada pela gripe espanhola, e ao lado das suas irmãs, passou a viver sob os cuidados da avó (Adelaide Cristina de Amorim), em Bela Vista de Goiás, até se casa com Jolão Alves Teles, comerciante, com quem teve seis filhos: Gilberto, Lourival, José, Ideraldo e Laila. Faleceu em Goiânia, no dia 11 de maio de 1995, aos 83 anos.
Foi Membro Efetivo Fundador da Cadeia V, Patrono Antônio da Costa Nascimento, da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (APLAM).


É Patrono da Cadeira LVII da APLAM.
É Patrono da Cadeira XX da Academia Anapolina de Letras, ocupada na atualidade por Simone Athayde.


Obra:
Historia da Menina de Pirenópolis. Goiânia, Editora Kelps, 1991.
Minha Vida de Casada. Prêmio “Memória” da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. RJ: Edições Galo Branco, 2006.
Memória Autobiográfica, inédito.


 

Teatro restaurado


 

Teatro centenário é entregue restaurado à cidade de Pirenópolis (GO). 

Construído em 1901, o Theatro Sebastião Pompeu de Pina, conhecido como Teatro de Pirenópolis, será reinaugurado na manhã do sábado, dia 25/11, após um período em obras de restauração e recuperação arquitetônica integral.

Fechado desde 2017, o lugar volta a abrir as portas ao público, numa cerimônia que terá a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes, e do presidente do Iphan, Leandro Grass.

Um dos mais antigos e importantes teatros do Brasil Central, faz parte do conjunto urbano de Pirenópolis, tombado em 1990 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que investiu mais de R$ 5,1 milhões em sua restauração.

Estão previstas para o evento, apresentações culturais como hip hop, e da tradicional Banda centenária Phoenix, que neste ano completou 130 anos de existência.

Superintendencia do iphan Goiás,

Pedro Wilson Guimarães.

Novos membros vêm aí


 A Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música (APLAM) está mais viva que nunca e plenamente atuante em prol da defesa da cultura de Pirenópolis. E por ser uma entidade em constante atividade, agora trará novos membros para seu time. Séfora, Valterli, Karla e Oona se tornarão membros efetivos no próximo dia 19 de novembro e todos estão convidados. Faremos uma bela festa lá no cinema. Compareçam e prestigiem. 

APLAM na FLIPIRI 2022

 

 

A Academia Pirenopolina de Letras Artes e Música participou da Festa Literária de Pirenópolis em 2022, com um sarau completo que atraiu considerável público.